sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Balaústre

Hermanito charmoso esse Miguelito. Galanteador, matreiro, papo afiado, Miguelito tinha sempre um "deixa que eu pego", um "Que isso, o prazer foi meu" na ponta da língua .Cavanhaque ralo, olhos verdes, cabelos lisos.Vinha sempre munido de um sorriso engatilhado e pastilhas de menta.Sentado, com vergonhoso espanhol, o falso Dom Juan se preparava para o próximo bote. Um olhar cruzado e pronto:

- Tengo bala,usted quieres?
Aí, mais um coração partido.



Esse foi mais um desafio com a Amanda, a palavra era Balaútres. Acho que serve um bala alguma coisa né?

:B

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Bem digo.

Era esquálido, meio amarelado. A boca seca nas três da tarde. O boné jazendo no calor da calçada. Dois reais e setenta centavos. Enquanto roia a unha do anular, cogitava deveras possibilidades do que fazer com a mísera quantia. O meio fio quebrado chamou sua atenção. O tilintar de mais dez centavos nem foi escutado. A barba o incomodava há duas semanas. Da sacola pálida retirou uma garrafa de água pela metade. O sol cobria-lhe metade do corpo. Numa posição quase incompreensível ele permaneceu estático por duas horas. Um pão de queijo e imediato ao pensamento salivou. Não comia há dezesseis horas. Coça a barba e encara o engravatado. Era chamado por alguns de problema social, e não se lembrava do seu nome de batismo. Já não importava. Seus pensamentos se confundiam entre realidade e alucinações, causadas pela insolação e momentos de vagas lembranças induzidos pelo álcool. Na palidez da sacola lia-se “Volte Sempre!” Até que não seria má idéia, pensou. Alguém lhe jogou um jornal. Foi direto a página sobre previsão do tempo. Frente fria. O jornal viraria então cobertor. Uma senhora macilenta desfila com seu bassê. Teve a certeza de que o cão vivia melhor do que ele. Era notívago, mas não pela rebeldia de seu horário biológico e sim pelos perigos oferecidos pela madrugada. Vez ou outra acordava sem os pertences, o que pra ele não era muita coisa. Ou acordava sobre saraivadas de bofetões de algum sanhoso policial. Um pingado e um pastel de vento. Seu estômago quase criou vida. Algo se retorcia e gritava lá dentro. Com um leve aceno de cabeça agradeceu a moeda. Não citava mais Deus. Os que passavam apressados mal tinham tempo de jogar a moeda, muito menos para ouvir um agradecimento fervoroso e fiel. Um vento lhe trouxe o perfume de um alguém. Quanta gente mesquinha. Começou a se questionar com o que aquelas pessoas se importavam. Um banho no posto de gasolina se o dinheiro desse. Será que se importavam com o que fazer num domingo? Uma das possibilidades que ele tinha e desfrutava era a de poder se sentar e pensar o dia todo, em qualquer coisa. Sem que fosse interrompido, passava horas absorto em idéias e escutando o tilintar das moedas, isso quando o dia e o ponto eram bons. Julgava ter quase quarenta anos, quando na verdade tinha trinta e cinco. Será que se ocupam vendo novela? Será que param no meio do dia e ligam para a esposa? Um casal passa e ri. Um pequeno cão marrom senta ao seu lado, como se esperasse a puxada de uma conversa. Olha-o de cima abaixo e cheira sua mão. Uma sirene ao longe e uma nuvem espessa tapa o sol. No que eles pensavam enquanto caminhavam? No que vestir para aquela festa? Quanto custava aquele novo celular? Uma loira fala ao telefone enquanto seu sapato tique taqueia a calçada na sua frente. Quando ergueu a cabeça e olhou dentro do boné havia uma bala que prontamente foi descascada e jogada na boca. O cão se lambe e o encara. No que pensam os pedestres que se cruzam e nem se olham? Certamente não era no pingado e no pastel que ele pensava. Haveria de ser na calça na vitrine, no novo Volkswagem ou na décima edição do reality. No preço da dúzia de ovos, no remédio contra a impotência ou no porque da calvície. Na bunda da moça que vai a sua frente, no esporro do patrão e no flerte com a secretária. Na prova de matemática e na feira livre de quarta. Pensavam se iam ligar amanhã, se a gravata está torta e quantas parcelas faltam da televisão. Aonde irão no carnaval, quem reforça o ataque do Flamengo. Onde foi parar a tampa da Tupperware e quanto custa por hora.
Cansou de tudo. Do boné retirou o suficiente para o pingado e o pastel. O restante das moedas distribuiu entre quem passava. Assustadas as pessoas pegavam as moedas sem saber como reagir. Alguns aceitavam e riam outros indignados com a situação proferiam palavrões. Eles precisam muito mais do que eu – pensava. Seguiu pela calçada e sumiu entre a multidão, seguido pelo cão marrom. Ele podia pensar todos os dias, e isso já bastava para viver.




Não revisei, já é quase meia noite, tenho que fazer mais dois textos e acordar as 7! Beijo!

Semana Canibal

Minha semana é canibal
Um dia come o outro
Mas a dieta é sempre a mesma
Formada pelo meu tempo
O domingo come o sábado e alimenta uma segunda-feira
e assim vão.

Dois mil e onze anos sendo comidos
Salivando segundos pelo canto da boca
Raspando os minutos restantes nos pratos
Empilhando horas para serem lavadas na cozinha

Eterna refeição de 365 cardápios iguais
Eu me alimento do tempo
Quando tenho tempo pra comer.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sabão de Côco

Entrei na equipe do Judô,
Chance de através do título de homem,
Poder abraçar outros tantos.
Mas o mais esperado mesmo,
Era a hora do banho.
Em que no chão eu ia deixar,
Levemente escorregar,
O pobre coitado do sabão!

Bom, essa é a minha parte na brincadeira com a palavra.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Morena das omoplatas de saboneteira

Mamãe, sou assim mais “melanizada” ou nasci mais corada?
De onde vem essa cor de jambo que me contrasta com outrem?
Será dela que surge essa volúpia que desperto nas mentes masculinas?

Passo na rua entre arremessos de galanteios, cantadas, beijos e acenos
Me resta rir por dentro, na solidão do meu inflado coquetismo
Vez outra me escapa um risinho frouxo no canto da boca
Por entre os dentes, e então, olho de soslaio o atrevido cavalheiro.

Na minha mente pura e ingênua despertam desejo e explodem “eu queros”
Me seguro, amarro o tesão ao pé da cama e espero
Me contenho, me abstenho
Proferindo obscenidades na intimidade do meu quarto.
Acordo assustada e vou logo lavar a boca com sabão.






Essa se originou de uma brincadeira entre a Amanda e eu, fazer um texto qualquer contendo uma palavra em específico, no caso: Sabão.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Madeixa

Deve ser o cheiro do cabelo que invade a narina e me excita
E faz sentir que estou realmente aqui
Sua respiração leve me faz repousar
E me carrega em calmaria
Seus olhos fechados me traduzem o que ela pensa
Com o corpinho acolhido contra o meu
Fazemos jus a uma lei da física, troca de calor entre corpos
Braços em nó, impossível desenlaçar, proponho o desafio
O pescoço nu, o colo convidativo
Salpicado de beijos nos ombros, nos braços
Se eles servissem como prova de algum crime
Minha sentença seria prisão perpétua
Queria que a noite durasse mais 203 anos
Tempo suficiente pra que eu sentisse que aquilo
Realmente acontecia, e não era um devaneio mirabolante
O gemido do sono, o aperto afagado
Os cabelos, sempre os cabelos
Envolta num sono profundo, a boca agora não fala nada
Mas ainda escuto o eu te amo, seguido do boa noite.

Velo teu sono, reza por mim.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Target

Olhar municiado
Sentimento engatilhado
Alvo localizado:
FOGO!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sulino

Que vente muito
Sopre, uive na janela do meu quarto
E que num ato
Tu desça do céu
Voando naquele sulino
Que sempre por aqui
Foi bem vindo.

Que sopre com toda a força
O vento do destino
Levante minha casa
E que não pare até que
Não mude todo o mundo a minha volta
Vento que tu seja meu amigo
Daqueles
Que escrevem solidão
Que o vento entre e balance
Esse velho coração.

Manchado de sangue

Vestido branco
De noiva
Manchado de sangue
Machado.

Seu, do marido
Das sobras
Da noite
De núpcias

Tem sangue
Vermelho
No vestido
Branco
Irrompendo a pureza
E a virgindade da alvura
Sangue.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Saudoso

Tenho uma apreciação pelo antigo
Pelo empoeirado, esquecido
Num canto, num baú, numa caixa
Tenho apreço pelo que você procura e quase nunca acha.

Me perguntam de onde surgiu tal cartada?
De onde veio tal admiração?
Acho que nasci na época errada
Nasci velho, queira ou não

Sou um eterno saudosista
E mesmo que eu insista
Preferia o tempo em que era mais firme
O aperto de mão.