sábado, 4 de junho de 2011

Finóquio

Finóquio era um velho. E era velho pois tinha nome de velho. Finóquio. Certamente na infância encarara vários engraçadinhos que o chamavam, obviamente, de Pinóquio, cara de pau, coisas da quinta série, ou do quinto colegial como diziam.
Finóquio é velho. Não “era”, pois ainda não morreu. E a carapaça que se esconde quando fica envergonhado, ganhou de uma tartaruga gigante que ficou amigo quando foi marujo.
Rubro e com óculos dourados, ele tem hábitos peculiares dos avôs, ler para os netos, dormir e reclamar.
Um velho. O velho Finóquio. Foi lobista, engenheiro, arquiteto catalão. Foi jogador, foi zagueiro, da primeira a quinta divisão. Foi piloto, marceneiro, um bombeiro de plantão. Foi ouvinte, foi leitor, foi fazedor de refrão.
Por detestar rimas dedico a ele o passado parágrafo.
Só toma leite de Minas e café da mesma procedência. Teve estudos, teve privilégios, mas também tem calos nas mãos e a cara queimada pelo sol.
Finóquio, um velho avô. Um dado do IBGE, um número na Previdência, um na fila dos aposentados.
É ranzinza, é careta, acorda com uma dor no joelho que nunca contou pra ninguém.
Olha pela janela a Ford Jardineira que passa carregada de moçoilas e suspira:
- “ Ah Finóquio, quanta saudade das traquinagens juvenis...”

Finóquio, o velho.


Continua...

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