quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Final de uma poesia não escrita

Começando de novo e sempre
O que nunca acabo,
Levando a cabo o que nem comecei.

Eu, partidário inativo de uma moral qualquer,
Defensor contraditório de metafísicas inefáveis.
Eu, vedando o dia nas cortinas claras de meu quarto,
Deixando vazar a poesia pelos buracos sintáticos,
Poros que absorvem as representações sensíveis
Nas virgulas aleatórias que antecipam o porém...

Quero a poesia obscura que a noite cala.
A noite cai,
Meia noite em cada metade partida pela queda...
Duas, três, quatro horas que o tempo engole...
Cinco seis cigarros,
Mais um trago, mais um gole de aguardente.
E como ardem as águas
Num desejo de fim de noite,
E como apagam o fogo essas águas que passam.

Pronto... Amanheceu a noite inteira,
Clareando o céu da noite que morreu...
Demônios no paraíso, preguiça para café da manhã.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Vagando-se

Vim pra cá num pé de vento
Caminhando sem destino
Fui apanhado por um sulino
e quando vi, aqui estava.

Só me agarrei ao meu violão
Azul, como minha canção
versos feitos pelo caminho
pedra, pau, poeira, roda e moinho

Fui confundido com um mendigo
e até me senti bem por isso
as esmolas são sentimentos
aqui dentro do meu chapéu.

Dialética de quinta em primeira pessoa

Onde estava eu quando me dei conta
Da síntese histórica e esteriótipa que sou?
Encontrara-me a ouvir música clássica
Pelo fone de ouvido,
Sentado num moderno transporte popular
Com roupas velhas e um novo visual
De tempos atrás...

A vestimenta usual em amálgama,
Em desuso... Não sei o quê
Da moda contra-cultural
(Ou, seja lá o que for).
Escuras e claras heranças baratas
Acumuladas durante os anos que vivi,
Conservadas em naftalina...
Modelos da década a qual nasci.

E agora, me vi escrevendo (trêmulo)
Em linhas retas,
Lendo um fado pós-moderno
De uma surrealidade de equilibrar opostos,
Distorcendo e movimentando cores
Numa variação de tons formadores
De uma tal canção...

Entrelaçados versos, vestindo alegorias,
Desfilam diante dos meus olhos.
E eu acompanho a minha solidão,
Criadora lúdica da realidade que me condensa,
Que me engrada,
Num hodierno desagrado de contentamento,
Espalhado ao dissabor do vento,
Desaguado na enxurrada temporal...

Discurso de apresentação

Obrigado Diego pela recepção e apresentação ardorosa... Conheço Diego desde a infância (pré I, no caso) e já passamos por muitas peripécias, das quais pouparei o leitor...
É uma honra participar de tão seleto grupo, ainda que o gênero de minha poesia seja um pouco diferente do grupo...mas de qualquer maneira: Viva a diversidade!!!
Como o Diego já disse, eu sou aluno de filosofia da unioeste (quarto ano). Sou apaixonado por poesia desde dos 12 anos (mais ou menos), gosto muito do estilo trágico dos gregos, do Romantismo francês e brasileiro, além do movimento modernista (brasileiro)... Os poetas que eu mais admiro (e mais me influencia)são:Fernando Pessoa, Drummond,Mario de Andrade,Neruda,Leminski,Baudelaire, entre outros...

Isso é o que tenho a dizer, é um prazer reunir-me ao homo pensantis. E espero que minha poesia não enfade o leitor...

saudações a todos os pensantianos...

domingo, 24 de janeiro de 2010

Águas puras da Infância

Ferveram-se as águas de minha infância,
Submergiram nela
Insípidos ingredientes,
No recipiente raso e transbordante,
Caldo ralo acrescentado
Às raspas sonsas das cinzas pretas
No fundo do alumínio candente.

Iluminado pelo fogo azul
Do fogão branco amarelando-se,
Intercalando momentos-espaço,
Esparsos,
Apoiadores do processo incisivo
Dos pescoços recém-vivos.

Vivacidade impressiva
Das imprevistas
Ações distraídas,
Distorcida e remexida
Mente
Que dentro de si é doente,
Sem visita,
Nem presente.

E o quente caldo passado
Tomo
Com pressa
Adentro,
Para a enxaqueca caprichosa
Da mentirosa dama mental,
Enclausurada,
Usurada e intumescida infantil...
Explode...

Novo Blogueiro!

Mais um para o time do Homo Pensantis. E agora a "contratação" é de peso, como no post anterior já se pode comprovar!
Alderberti é o mais novo homopensantense. Meu amigo há vários anos, companheiro de longas caminhadas até em casa, de tardes jogando bola, e de alguns anos de colégio!
Formando em filosofia, tenho certeza que se apresentará melhor do que eu devaneando sobre ele.

Até mais!

Desarranjos de flora intestinal

Aorta coberta de sangue,
Revestida de carne
Dos animais recém colhidos...

Lascas expostas de canela,
Cascas da árvore que sou
Plantado em pé.

‘Buli’ em mim o sangue fervente,
Gota de pranto que escalpela.
Corpo ido, carne viva,
Caldeirão borbulhante,
Quente tempo
Que te espera...

Sempre fui

Sempre fui
Braços, troncos e pernas
Para minha cabeça.
E essas partes autômatas
Parecem-me nunca
Haver tido
Sentido
Sem essa (abstrata)
Cabeça cogitada,
Que somente vejo
Ante ao espelho
Do que sou
Enquanto imagem refletida
Do que sempre serei
Sem saber...

Conto um canto, aumento um dia

Mais um dia...
Um dos muitos dias,
Mais um dia...
Até percebermos que os muitos dias
São nada,
Até nadarmos,
Mergulharmos contra a torrente do tempo,
Que paira sobre nossas cabeças
E desvaira pelas minhas entranhas...

Conto, não muita coisa,
Conto quase nada.
Conto com a trivialidade,
Fiel inimiga, indesejada companheira...
Conto dias que passam,
Conto mais um dia.
Mais um dia, dos poucos que restam,
Mais um dia, dos muitos que espero,
Mais um dia...
Do resto da esperança que desmantelo
A cada pulsar de meu cálido coração regressivo...

Em cena não se encena

Talvez viver
Seja preparar-se para
A cena e encenar
Sem espectadores,
Representando as dores
A quem as sente e presencia...

Viver é derrotar o oponente
Que se suicidou antes
E conviver com a constante
Inconvicção de ser o vencedor,
Com o orgulho ferido
Sem luta
E a impossibilidade de
Uma posterior vingança,
Essa que seria desprendida
No suor do corpo-a-corpo.

Mas meu adversário ausente
Não se ausentou da derrota,
Antes me retirou a vitória,
Tirou-me o fim que ensaiei,
Nada foi tudo o que houve
Sem ter (aconte...) sido,
Havia erro,
Faltava certeza e obviedade...

Ó inútil preparação épica
Para o imprevisível fim trágico,
Preparação meticulosa
Para o que não acontece,
Gravação renitente
Dos sonhos esquecidos...
Vida larga, ladra dos meandros,
Ladra a vida daninha
Regada a sublimes momentos escorridos...
Vida real, interpretação atrasada
Dos atos encenados.

Em cena a mesma mão
Que afaga
Acena,
Mão do sonho e do
Acordar-se a tapas
Realmente representados,
Fielmente traídos
Em sua dor verdadeira...

O problema de encenar é que
Não se expressa tudo o que se
Quer ou sente,
O ator leva consigo
O fechar das cortinas não abertas,
E a sensação
De não saber existir
Não cabe no papel...

Ponto de vista. Ou não.

"As dificuldades que encontramos na subida da montanha, são recompensadas pela vista que temos lá de cima."

- Ou não! Discordava o alpinista cego.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Au revoir!

Bon Voyage! Vou comer puta francesa à milanesa!

Dizia Hannibal, antes de embarcar para a cidade luz.

Café Sintético

O meu café é sintético
faço na cafeteira e esquento
ainda mais no microondas
Ele fica um café estranho, parece superficial
Não tem gosto de cafeína
e não satisfaz minhas papilas gustativas
Mas mesmo assim,
eu continuo tomando café sintético.

Ruim, plástico, quase inexistente
café sintético pra uma pessoa de plástico
café sintético pra pessoas plástico-bolha
produzidas igualmente
uma após a outra
todas presas por um emaranhado plástico
de objetos fúteis,
que com o apertão de um dedo sintético
explodem
e vai-se a vida plástica de um sujeito sintético.

Que passou a vida toda
tomando café de plástico
pensando viver num mundo modermo
estando preso a um plástico-bolha
e acreditando em pessoas sintéticas.

Café sintético não me satisfaz.
Ponto.

Se eu fosse o Jack Sparrow

Sete mares navegados
vários navios roubados
alguns tesouros enterrados
um pirata pirado e desolado

Nascido pra velejar
sozinho encarei o mundo e o mar
pescava tubarões para o jantar
mas sem um porto pra atracar

Conhecedor de vários segredos
nem o Holandês Voador me põe medo
Endereço flutuante (literalmente)
Cartas para mim? Não coloque remetente!

Não me procure, eu te acho
a perna de pau agora é de plástico (cupins, sabe?)
o tapa olho é só um charme
e o papagaio agora é um palm

Já me livrei das maldições
tempestades, raios e trovões
tenho mapas tatuados
ilhas desertas e canibais serão aniquilados

O que eu queria eu já conquistei
meu chapéu e o Pérola Negra
agora são realmente meus!
O financiamento me matou, mas eu paguei!

Hoje navego também na Internet
conduzo leme e mouse
Não roubo senha, dinheiro, conta alterada
Alguns me chamam de hacker, mas prefiro
O Velho e Bom Pirata!

Meia boca

Passei a vida
fazendo tudo pela metade
fazendo trabalhos meia boca
lendo livros meia boca
escutando bandas meia boca
amando pessoas meia boca

que se aproveite, levei pouco.

Comprei discos meia boca
falei frases meia boca
lembrei de coisas meia boca
fumei coisas meia boca
tive razões meia boca

antes fosse completo.

Queria mesmo era a boca inteira
os dentes, a saliva
os lábios, a língua
e a lábia,
a ligação com o cérebro
os caninos, o paladar.

Quem sabe assim, até mesmo
o céu seria estrelado.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DEScomposição 2

PORque
TUdo que
DOU ao papel é
UM poema
RIMado assim?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A saga do garçom e os bilhetes no guardanapo

Mais um poema que te escrevo
num guardanapo velho
eu passo e tu não nota
e qualquer dia tu se enforca
nessa tua indiferença.
Mais um poema que te escrevo
num guardanapo usado
todo de molho lambusado
o que importa se minhas palavras
você nunca irá ler,
sempre pede sua macarronada
e sempre vem acompanhada.

Daqueles que anoto senão esqueço.

Enquanto isso eu sigo
lembrando dos elogios
que nunca te fiz
dos beijos de esquimó
na pontinha do...
dos neologismos que inventei
pra te definir
e das palavras que sempre procurei
quando seus olhos
com o coração toquei.
Emudeci.
Eu que falo tanto sobre ti
quando "ti" está comigo
fico assim, mudo sem fala
sentindo a leveza e a certeza
de que a pena valha.

Escolha

Um escritor consagrado
ou um político afamado?
um cantor bonitão
ou um cachorro lambão?
um crítico careta
ou um contorcionista vareta?
um pacifista maluco
ou um caipira matuto?
uma enfermeira prestativa
ou uma professora cativa?
um jogador reclamão
ou um hippie doidão?
um publicitário confuso
ou um poeta difuso?
uma diva displicente
ou um dentista "sem os dente"?
um revolucionário de sofá
ou o governador do Pará?
um sorriso forçado
ou um abraço apertado?
um milhão de amigos
ou o mundo no umbigo?

escolhas, são elas que te fazem.

Assassinato egoísta

Tristeza no sofá
Hipnoze na tevê
o dia inteiro sentado
em frente a caixa mágica
me perdi em pensamentos
uma semana sem espírito
um corpo vagando sozinho
segue qualquer caminho

Um café já não resolve
muito menos outra dose
Já me sinto um passageiro
de um trem vazio qualquer
E o vento me carrega
pra outra planície verde morta
Tudo já tem o mesmo cheiro
meus ouvidos escutam a mesma coisa

E o tédio me consome
vai roendo o meu fígado
a rotina me enlouquece
no armário tem veneno
e o sol se põe igual
e o disco roda igual
o cachorro late igual
e a minha vida tá igual,
mas no armário tem veneno.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cartomente

"Procuro por respostas...
lendo a mão de um idiota!"

Papo

Senta aqui do meu lado
e fique à vontade
Tirando a vaidade
tu parece ser perfeita

Careta? Não fuma, não bebe, não cheira?
Pedreira!! Suspendo a perfeição!

Mas um papo você topa!?
Um bom papo sempre é bem vindo
de segunda a domingo

é só procurar um lugar
se entreter e se "entretar".

Bicho Homem ou Homem Bicho

Atendo pelo nome de homem
sou o bicho que te come
e o que te alimenta também

Sou o que te faz passar frio e fome
mas te dou um cartão
e que finjo ser sua salvação

Sou o bicho homem
o único que mata e que se mata
seja num atentado
ou roubando o vizinho ao lado

Sou o bicho homem
que fabrica bombas
e usa toda tecnologia

mas que não reconhece
sua própria ironia.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Cartomante

Procuro por respostas
lendo a mão da Sra. Pergunta.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Do Cóxis até o Pescoço.

Gosto da tua cara de sono
quando acorda no meio da noite
e tateia o chão a procura de um chinelo.

Gosto das tuas olheiras marcantes
que te deixam ainda mais
com o rosto inebriante.

"Long black hair" despenteado
gosto das risadas frouxas, do olhar sério
quando me pergunta: "Onde estava?"

Gosto do afago no cabelo
cafuné hipnotizante
do contato com a tattoo, do seu cóxis tatuado.

eu te gosto inteira.

Passos

Já pensou o quão triste é envelhecer sozinho?
Não digo somente pela solidão, como também pela proximidade e certeza da morte
por algum motivo qualquer.
E pior do que isso, a velhice nos remete a uma impotência.
Um vazio convivendo conosco embaixo do mesmo teto.
É a presença da ausência.
É algo como ir ao supermercado e comprar somente uma laranja
e na padaria só pedir um pão!
Envelhecer sozinho é chorar sem razão
o que muito acontece pelos lares desconhecidos
velhos julgados esquisitos, são apenas velhos "esquecidos"
Seja pelos filhos, esposas ou simplesmente pelo tempo.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Pobreza. De espírito.

Convidou calorosamente:

- Entra, fiquem à vontade.
A casa é de pobre, mas a tv é 29!