quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Nos usar até gastar, até perder o tino
o fio da meada, perder o corte
o centro, o alinhamento.

Gastar todos os dentes das engrenagens
e fazer nossa mecânica sair de funionamento
numa fricção estonteante, extenuante.

Deixar marcas, arrancar fagulhas
que enguice, perca a força
até que se precise de peças de reposição.

vamos no gastar, nos gostar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Desambicione-se

Por que tão complicado?
Pra que tanta ambição?
Não se contenta com menos? Com o necessário?
Qual é o problema com a simplicidade?
Insiste no complexo, no difícil
Naquele ímpeto de sempre querer mais
Acalme-se, “desambicione-se”
Tenha paciência,
Fica mais fácil, quando é mais simples.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

toca o telefone.

Fazer um poema triste
é uma maneira de chorar
sem que haja lágrimas no papel
só tinta.

Ledo engano

Eu queria ver a tua cara

quando vem aqui e lê

E tem a certeza com seus botões

que tudo que eu escrevo é pra você.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Foi-se

Tudo se acaba. Tudo passa. Tudo vai num vento, aquele que você nunca espera que chegue. Tudo se esfarela, vira pó, escapa da memória e nunca mais volta entre rodas de conversas .É inevitável, e quando eu digo tudo, é tudo mesmo independente o assunto.
Um dia ninguém lembrará mais. Como era o nome daquele menino que morava na casa amarela da minha rua? Muita coisa acontece no dia a dia e a rotina é traiçoeira, nos faz trocar pessoas por pessoas, abraços por abraços, nos confunde e diz que assim somos felizes. Como era o nome daquela gata que eu saia em 87? Aquela loira? Não, a morena, que só usava batom vermelho! Scheila! Ah, esquece. Scheila também virou pó pra mim.

Ahh rotina, inimiga mortal das lembranças gostosas e risonhas.

Ano Bissexto

Eu queria que todos
os anos
fossem anos bissextos
Só pra ter um dia
a mais no ano
Pra ficar contigo.

Mudou?

Olho a mesma pessoa todos os dias e gostaria de ver uma coisa nova, uma mancha no rosto, que fosse, e não a mesma cara esquálida de sempre. Os mesmo olhos tristes, a mesma mão sem coordenação.

Queria ajudá-la a mudar de cara, de roupa, de atitude, Não tenho dó, pois este sentimento é o que ela menos precisa me sinto impotente.

Aquelas sobrancelhas caídas, o sentido de não fazer nada certo, a morte se "aprochegando" aos poucos, o tempo carcomido que gruda nos ossos e não nos deixa esquecer que ele manda em tudo e em todos.

O tempo, a mudança. Juntos, tão ligados e tão distantes
Muda-se com o tempo e quando há tempo de se mudar.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Insônia

Rolo na cama
De um lado pro outro
Viro, deito
Coloco a cabeça
No travesseiro
Já chega, desisto
Ela ainda me chama
Me entrego, confesso:
A insônia me ama.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cachaça 2

Cachaça, sentada ao meu lado
Companheira solitária, na luz fraca do botequim
Te conto minha história
Você me olha, te viro num copo
E não sinto nem teu gosto
Muito menos meu desgosto
Você é quem há de matá-lo
Partilhamos problemas, necessidades, angústias
Mas você é injusta, me deixa marcas
Não perdoa cor, credo, raça
De você só me resta lamentar
Maldita cachaça.

Ressaca.

sábado, 27 de novembro de 2010

mais um daqueles

O amor inicialmente é estatal,
Você detém 51% das ações,
                                   [lê-se: amor próprio, natural.
Os outros 49%,
Vagam por bolsas e pregões.

Alguns, entregam o capital facilmente,
Outros, trocam por benefícios,
Diz a psicologia,
Que para uns, isso vira vício.

Com o tempo, há quem perca a maioria.
Fica só com uma dose diária de 20 %
                                                     [o valor varia.
Daí, transforma o outro em centro,
Então, o Dow
                      Jones
                                 despenca;
Você toma um porre e se recupera,
Para começar tudo outra vez.

É normal.
Durante a vida,
Cada um tem sua crise de 1929,
E a economia aquecida.

Vem, vai e passa.
Como tudo o mais.
A diferença, é que é de graça.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Afim e seus afins.

E se o afim se escreve tudo junto
Por que mesmo estando afim
Não estamos juntos assim?
Como a palavra, de mãos dadas
Quatro letras grudadas
Quatro letrinhas assim
Duas sílabas apaixonadas
Que se estão separadas
Já não estão mais tão afim

Alfim, eu só lhe digo
Que seja afim até o fim.

domingo, 21 de novembro de 2010

Pedaços

Não vão sobrar pedaços
De mim
De você
Do que aconteceu.

Afinal
Pedaços
Já somos.

Separados
Pedaços
Nascidos inteiros
Mas que buscam
em pedaços
Sabe-se lá do que
Pra assim
Se dizer completos

Em vão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Palavras soltas

Escrevo palavras soltas
Sem sentido
Gosto de colocá-las
Sem acento, vírgula
Qualquer coisa da língua portuguesa, trivialidades!
Deixo-as soltas
Para interagirem

Me cobram pontuação!
Que isso? Pontuar é prender
É aprisionar uma multidão
De letras, palavras, sinônimos, e antônimos
Todos irmãos
Filhos da mesma mãe.

Não sou contra ponto, vírgula, e exclamação
Só acho muita tirania
Separar arco íris
Com um traço sem noção.
E sem cor.

Palavras soltas
É isso que peço
Quero que se danem as pontuações
Quero que vão ao inferno
Todas as vírgulas, pontos e sua junções
Quero que explodam os pontos de interrogação
Pra que tanta admiração
Pra que tanta pergunta
Uma palavra junta é muito mais inspiração

Que o leitor seja esperto
Saiba diferenciar o que lê
Aposto que assim
Presta mais atenção
E melhora sua compreensão.

Prateados

Eles andam devagar, olhando para o chão
Atendendo a um pedido das pernas
O branco dos cabelos não revela a idade
De mãos dadas, num passo único e lento
O casal de velhinhos desperta a minha inveja.

Como é passar 50 anos acordando
Com o mesmo olhar te olhando?
O mesmo sorriso depois de alguma bobeira?
De onde vem a vontade de ainda dar as mãos?

São anos de cumplicidade
Anos de não ser você, esse egoísta que nasceu
Achando que o mundo era seu
São anos de viver com o coração na mão alheia
E de preocupação quando o outro não chega logo.
Anos de confiança, de filhos
De almoços aos domingos, de netos no colo.

E depois de tudo isso ainda andar de mão dada.

Que seja assim comigo.
Intenso.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Falaefaz

Pega e me desvirtua
Me transforme naquilo que tua mente melhor pensa e melhor tua mão molda
Faça-me teu esboço e tua obra prima
Assina.
Pro teu ego permanecer altivo como conheci
Pega e me modifica, me “umbilifica” contigo
Me faça achar que sou outro, só com a sua lábia
Me põe numa cadeira amarrado com a corda da necessidade de voltar até você
Pega e arranca logo minh’alma
Revira meu carma e diz que vai tomar conta
São as rédeas da vida que estão frouxas
São os trilhos que enferrujaram
Foram os anos que sem querer e aos poucos me levaram.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rastros

Eu pensei em várias maneiras de iniciar este texto, nenhuma ficou legal, então vou direto ao ponto. O leitor que perdoe essa falta de “rodeios”, mas é que o legal da história tá no meio, é tipo bolacha recheada. Quem nunca abriu uma só pra comer o recheio!? Viu? Já fugi do assunto.
Pois bem, hoje eu ganhei alguns discos de vinil. Nada de raridades, nem de discos importantes ou que eu sempre sonhei apenas alguns discos, aos quais já me apeguei e já não vendo. O legal disso foram as conseqüências de ter ganhado.
Como todos sabem as capas dos discos sempre foram mais bonitas que as do seu irmão moderno, o CD. Uma por ser bem maior, e outra porque são artes mais coloridas, com mais desenhos. Bem, isso é uma opinião minha. O fato de ser maior possibilitava que as pessoas escrevessem algo na capa, quando, por exemplo, fossem dar um vinil de presente. (o que eu acho muito legal). Dentre os discos que ganhei, em cinco deles havia recados de um rapaz para uma moça, sempre assinando com o apelido Val, o rapaz, e Jana, a moça. E isso lá nos anos de 1978, quando o vinil alcançava seu auge comercial.
Conforme fui lendo aquelas declarações, comecei a imaginar a cena. Os dois juntos. Ele entregando o presente para ela. Ela abrindo um sorriso. Ela de vestido de bolinha e ele de calça pantalona. Ela colocaria pra tocar seu novo vinil numa vitrola de mesa, que o pai havia comprado de segunda mão, de um tio da capital.
Claro que a imaginação foi longe. Pensei muito sobre o que teria acontecido com eles. Mas não vou contar tudo, porque ficaria muito extenso.
Num desses discos, encontrei o nome completo da mulher. Como a internet é uma mãe dos curiosos, resolvi procurar a pessoa. Descobri o Orkut dela, vi que está casada e tem filhos. Mas nada de detalhes. Outra vez me peguei imaginando se é casada com o rapaz que lhe deu os discos, ou não. Não sei. Só olhei meio por cima, nada de detalhes. Foi suficiente pra matar metade da minha curiosidade. E outra, se eu descobrisse tudo, não teria como continuar imaginando destinos pra eles, o que estou fazendo agora.
Eu imagino porque ela ou ele, ou os dois, se desfizeram dos discos? Será que cansaram dessa quinquilharia? Será que não é algo que pode ser considerado um ponto importante no relacionamento deles? Uma lembrança boa? Será que eles estão separados? Será que se casaram? Não sei. Mas é legal o fato de poder pensar e imaginar coisas a respeito disso.
Vejo as declarações nos discos como cicatrizes em alguém. Quando você vê, sempre imagina o que aconteceu pra que aquela marca esteja ali.
E hoje, depois dessa situação, e de pensar sobre esse casal, percebi que em algumas coisas e momentos é melhor deixar a imaginação trabalhar e voar por caminhos diferentes, do que perder toda a graça sabendo de uma verdade que nunca é a que a imaginação nos reservou.



Eu também fico pensando se esse post pode chegar ao conhecimento dos dois, o que seria muito legal!

domingo, 31 de outubro de 2010

E lá vou eu de novo

E lá vou eu, outra vez de novo
Me questionar sobre o que não tem solução
Sobre ser poeta, velho ou novo
Sobre escrever com o coração.

De como aproveitar a hora da cesta
E escolher um lugar calmo
Pra outra vez pegar a caneta
E escrever mais um poema besta

É daqueles que podem até ser lidos
Mas não serão compreendidos
Não surtindo efeito, então
E me pergunto bem baixinho
Do poeta, qual é a contribuição?

Já não vejo aí resposta
Eis ai minha rotina
Outra pergunta me consome
Quantas palavras eu uso
Na minha poesia cretina?



Cento e nove nesta daqui.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Abelão

E descendo a ladeira, saltitando os degraus
Vem o requisitado Abelão.
Negro do cabelo duro, samba de partido alto
Panamá e violão
Abel é no aumentativo em estatura e reputação
Conhecido em todo o morro, carismático de plantão
Abel ajuda o povo e descola seu ganha pão
Tudo assim, junto e reunido
Mata dois coelhos, então.
Sua vó desde menino lhe ensinou ter bom coração
E seu pai, seu criador, já lhe dizia:
- “Não fique sem trabalhar não!”
E Abel é personagem principal da história em questão.

Um dia, numa viela apertada de sua favela natal
Abel foi alvo errado da polícia, foi confundido com bandido
Ou policial da milícia.
Algemado, humilhado foi pra dentro da viatura
E a polícia saiu vaiada
Da população levando dura.
Abel, inocente até o último fio do seu duro cabelo
Se defendia dizendo: “Negócio alheio, não meto o bedelho.”
Mas o detetive, ruim de sangue e de humor
Torturava, queimava-o com cigarro – “Se não falar, vai sentir mais dor!”
E Abel sem ter um “a” para dizer, entregou até o que não tinha
Pra só assim, parar de sofrer.
A espera do julgamento, transferido para a cadeia
Abel chorava toda noite, esperando Cidinéia.
Sua negra cheirosa e carinhosa
Que mais do que comida e cigarro
Vinha lhe pôr a par das prosas.

Ela aparecia todo domingo, bem cedinho
E lhe contou que a ajuda não tarda
- “A turma toda já vem vindo, confia e aguarda!”

E naquela terça feira em questão, o morro todo se mobilizou
-“Vamô lá, salvar o estimado Abelão!”
E descendo em retumbada, barulhenta multidão
Com uma só estocada derrubaram o portão
Invadiram a cadeia e dominaram pífio batalhão
E sob o sol forte do Catete, abriram a cela do negro Abelão!

Abel não se continha de tamanha alegria
Sua turma, seus vizinhos, até Dona Flor de 90 anos também vinha
Com a frigideira em punho, lá num canto batia num guarda
E a turma reunida, descendo e subindo as escadas.
Com as forças de mil braços, Abelão já carregava.

E foi assim, com uma surpresa de um cavalo de Tróia
Que o morro todo, pôs fim a essa história
Libertado e inocente, Abel sorria, apesar de faltar-lhe um dente
Resultado da tortura daquela noite de amargura, esquecida na festa de agora
E pedindo um tempo ao samba, com seu ego nas alturas
Abel quis fazer um discurso, e agradecer tamanha ternura.
- “Pessoal que eu amo tanto, aqui nasci cresci e me formei
Aqui sempre fui tratado e estimado como um rei
Agradeço tamanha credibilidade, por terem atravessado a cidade
Pra me livrar do que não fiz!”

Na roda de samba, entre cervejas e cuícas
O povo sorria e era feliz.

Abelão com o copo em punho propunha um brinde a todos.
- “Raízes plantadas nunca são deixadas pra trás
Agradeço a amizade e aqui lhes digo mais
Povo igual esse não há entre os mortais
E que dessa turma e desse morro
Eu não me afaste jamais!”

Viva Abel! Em coro uníssono! Ganhara até uma nota no jornal.



não revisei, tô com preguiça.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Rabisco da Madrugada

Que o

encanto

dure

enquanto

isso durar.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Palavra: Meretriz

Uma Palavra faz ponto na esquina
Próximo a botica
Dentro do meu carro papel, analiso.
Para ao lado e abaixo o vidro.

A Palavra me sorri
E sedutoramente se dirige até mim
Debruçada na porta, batom vermelho na primeira silaba
Ela me sussurra seu nome, um ditongo tentador.

Palavra meretriz que faz favores aos leigos
Se entregam a partir do lusco-fusco
Aos que as procuram
Na clandestinidade lingüística
Dos becos desconhecidos de uma cidade dicionário.

Palavras sem dono, lascivas, libertinas
Que nos fazem enriquecer
Discurso, vocabulário e lábia
E saciam desejos do conhecimento, e da vontade
De tê-las por inteiro e tê-las todas.

sábado, 16 de outubro de 2010

Utopia

O quociente de atenção

que você dá

ser o mesmo

que você

recebe.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quero

Quero beijar teus ombros
teu colo, teus seios
deixar a língua decidir por qual caminho vai
mapear seu corpo
a procura de arrepios
a procura de lugares que nem mesmo
você sabe que tem.

quero beijar tua pele alva, linda, lisa
como um dia de sol depois da tanta chuva,
sentir seu cheiro se espalhando
pelo meu travesseiro, pelo meu nariz
pelo meu mundo todo.


linda.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O fim
manda
em mim.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mal se foram, se mal foram, semáforam, semáforo.

Vermelho. Buzinas. Asfalto molhado. Garoa. Cidade Cinza. A fila se formava como formigas trabalhando num grande carregamento.

Logo que se aproximou, as luzes verdes foram se extinguindo, dando lugar ao alaranjado e logo após o vermelho pare. Ela estava cansada, seu dia tinha sido longo. Vestia um terninho risca de giz, que a deixava muito elegante ao mesmo tempo descontraída. Já não tinha trinta por cento da maquiagem do começo do dia. Só retocara o batom. Parada, abriu o vidro pra sentir o cheiro da sua rotina. Checou o celular e o retrovisor.

Vermelho. Buzinas. Asfalto molhado. Garoa. Cidade Cinza. Aconteceu o mesmo com ele. Logo que se aproximou proferiu um palavrão pela mudança repentina da cor. Ele estava agitado, tinha conseguido fechar um bom negócio no seu negócio. Vestia a calça de uma cor só a camisa de sempre e a gravata, que apesar de não gostar era mera formalidade. Já não tinha trinta por cento da coragem do começo do dia. Só retocara a lábia de vendedor. Parado, abriu o vidro pra não sentir o cheiro da solidão do carro. Checou o celular e o carro ao lado.

Magnetismo. Alguns chamam assim. O que aconteceu pode até ser explicado por esse fenômeno. Eu acredito mais em coincidência. Os olhares se encontraram no pedaço de asfalto que separavam os automóveis. Ela na esquerda, ele na direita da rua.

Que situação tensa. Os olhos se cumprimentaram como se conhecessem há muito tempo, velhos amigos de infância. O destino era o filme que passava em suas pupilas.

Ela o viu brincando com o cachorro no quintal da nova casa, consertando a lâmpada do banheiro, surpreendendo-a com rosas colombianas num dia inesperado. Censurando seu vestido, alugando um filme pro sábado chuvoso, a contrariando quando fosse jogar seu futebol, preparando uma salada de frutas. Viu-o ser namorado, marido, pai e avô. Ser chato, carinhoso, mesquinho, arisco, meigo, sensível, alegre e triste. Viu sua vida toda.

Ele a viu fazendo trancinhas na pequena Sofia, estragando a lâmpada do banheiro, o surpreendendo com o eu te amo sussurrado, Indicando-lhe qual gravata ficava legal, comprando litros de sorvete para o sábado chuvoso, a contrariando quando lhe dava opinião na roupa, preparando um churrasco. Viu-a ser namorada, esposa, mãe e avó. Ser meiga, ranzinza, teimosa, carinhosa, astuta, confusa, breve, alegre e triste. Viu sua vida toda.

De repente uma buzina. A olhada se quebra. Sinal Verde.
Ela vira para a esquerda, ele para a direita. Nunca mais se cruzam.

Um sinal? De que cor?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Casa Preguiça

Tudo naquela casa era preguiçoso. Tudo ali parecia estar num mundo de plena calmaria e sossego. Tudo parecia bocejar, e eu desconfio que alguns móveis ainda tiravam sua soneca diurna quando cheguei.
Logo na entrada fui recebido por um portão muito tranqüilo, que antes de ser aberto me pediu pra que eu esperasse sua espreguiçada. Entrei. O caminho que me levava até a varanda era a parte mais agitada. As pedras que ficavam ao seu lado, cochichavam e me olhavam com a curiosidade peculiar das pedras. Era um caminho curto, no máximo cinco metros. O jardim era pequeno, formado por algumas árvores centenárias que contavam a história de sua vida para as plantinhas novas, que cresciam protegidas por suas sombras. Cheguei até a varanda, onde uma cadeira de balanço se balançava e ria baixinho, como uma criança quando descobre algo divertido e que ela pode fazer sozinha. Sempre pensei que cadeiras de balanço eram avós, mas aquela não. Na casa não vivia ninguém. A cava vivia ali.
Me sentei no chão. O banquinho de madeira não merecia ser acordado só para a minha acomodação. Fiquei a observar a fachada da casa, o que causava a sensação de ainda mais sonolência. Num canto havia uma rede estendida. Como uma astuta trapezista, se equilibrava em dois pontos fixos na parede. Ao seu lado, uma samambaia roncava baixinho.
Quem ainda conseguia se manter acordado, estava me olhando com admiração. Quem sabe eu fosse o primeiro a entrar ali e até agora não havia me apresentado, muito menos trocado uma palavra com alguém. Meus olhares eram suficientes e esclarecedores.
A porta da frente abria e fechava seu olho mágico, na esperança de se manter atenta, porém, seu estado “preguiçônico” era demais.
A cadeira de balanço bocejou, e como numa “viralização” todos bocejaram. Eu também.
O sol estava baixo e deixava no céu uma cor que não sei qual era. O silêncio era tudo que se ouvia. Ali, sentado no chão, encostado na parede da casa mais preguiçosa que conheci, dei uma última olhada aos companheiros do meu lado, lhes desejei boa noite e dormi.

sábado, 25 de setembro de 2010

imóvel

Imóvel
Tento ficar parado
sem respirar ou pulsar o coração
imóvel
estou imóvel.
fico imóvel

aluga-se.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Propagandeando

E se eu invertesse as coisas?

Se eu começasse apenas a sussurrar
Ao invés de gritar num megafone?
E se eu lhe mandasse pequenos bilhetinhos
Ao invés de estampar isso no outdoor ali na esquina?
E se eu parar de anunciar no jornal, na revista
Como tenho andado tonto depois daquele nosso encontro?
E se eu tirasse essa placa da minha testa e escrevesse só na minha mão
Manteria o punho fechado e só mostraria para você
Dum lado, escondidinho, não é preciso ninguém ver.

Queria tirar tudo que sinto de veiculação.
Das mídias de massa, cansei de fazer propaganda
Você é a única audiência que eu quero
Que seja alta frequência e eterna continuidade.
Apenas você sabendo disso já me satisfaz.

domingo, 19 de setembro de 2010

Retrato de família

O filho que não volta, o avô dormindo no sofá
A mãe se desespera, o pai está trancado no banheiro
A tia aperta as bochechas do sobrinho.

"Que menino lindo! É a cara da titia!"
Todo domingo é assim
O frango assado roda na máquina da padaria

A televisão fala sozinha
"Ataques do PCC voltam a acontecer"
Mas ali nada os abala.

A paz reina solene, solitária.
e quando se reúnem parecem esquecer de tudo
uma perda de razão instantânea.

Efeito família, efeito esse que atrai
Une, acalma
Traz felicidade e amor ao coração.





Escrevi isso pra um concurso na escola, acho que foi na sétima ou oitava série, não me lembro bem. O poema seria enviado para a igreja, para ser exposto e tals. O meu foi escolhido pelas professoras, mas não passou pela aprovação do padre! Ele disse que era muito realista e não era o que procuravam, queriam algo mais lúdico e "enfeitadinho"! Haha!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sindrome de Estocolmo

Ele realmente era um cara legal.
Cuidava de mim.
Vinha me ver dormir no quarto.
Me trazia café na cama.
Me dizia palavras doces.
E que tudo ia ficar bem.



Pena que era meu sequestrador.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Batom

Parte 1: Ela
Levantou-se da cama e foi ao banheiro
Qual foi seu susto ao ler no espelho
Um eu te amo todo borrado
E viu o batom, que padecia logo ao lado.

Reconheceu no ato aquela cor de cobre
E por mais que a atitude tenha sido nobre
Seu batom preferido fora destruído
O que era aquilo? Desculpas desesperadas de um marido.

O coitado do esposo, em plena confiança de ser perdoado
Achava que com a inscrição, ganharia absolvição
Ele queria voltar pra cama e ela já nem sabia
Há quantos dias, no sofá ele dormia.

E ela pensava: mas que ilusão o coitado tivera!
A mulher, no lugar do coração tinha uma pedra
Trocaria muitos eu te amo como aquele, "patético"
Só pra ter de volta seu estimado cosmético.

Parte 2: Ele
Porém o sujeito era do tipo astuto, matreiro
Nas noites de insônia no sofá, montara um plano certeiro
Já tinha tudo planejado em seu "quengo"
Sabia direitinho o que fazia a mulher pedir arrego.

Estragar o batom e escrever eu te amo
Era a primeira parte de seu ardiloso plano
A segunda seria uma grande surpresa
Com direito a batom novo, jantar e velas na mesa.

Logo que saiu do trabalho passou na loja escolhida
O pequeno embrulho enrolado em laços e fitas
Vinha acompanhado de um grande ramalhete
Entre o cheiro das rosas, havia um pequeno bilhete.

A mulher quando abriu a porta quase caiu de admiração
Como ele havia feito tudo aquilo com tamanha discrição?
E sem lhe contar nada, agora ela sentia culpa
Por toda a dor que o sofá lhe causara na coluna.


Parte 3: Os dois

Pronto, tudo resolvido! Batom novo, colorido!
Abraço, beijo, desculpas, e carinho. Volta pra cama, volta pro ninho!
Fizeram um trato, então. Nunca mais eu te amo escrito com batom
De hoje em diante só seria admitido, Eu te amo, dito baixinho, ao pé do ouvido.

Muito prazer. Pode me chamar de Avô.

Outro dia me veio a vontade de relatar os poucos, porém, curiosos fatos da minha vida. Escrevo meio tremendo, a mão já não me ajuda, mas é a emoção de cada página que a faz tremer ainda mais. As lembranças que se aguçam me deixam cada vez mais vivo e isso é bom.

Conforme passa o tempo eu descubro que não estou inserido nele. Não que o tempo não passe por mim, isso não. Queria ter tal poder, mas infelizmente não tenho. Sim, já estou velho e as dores denunciam minha velhice. O modo de andar, o raciocinio mais lento, os cabelos prateados, a alcunha de avô, isso tudo também me denuncia. Estou velho só fisicamente, isso é o que me importa.

Acredito que não precisaremos de apresentações, eu não digo meu nome, nem minha idade, afinal, você não irá me dizer o seu. Vamos conversar como se fôssemos dois anônimos, como se acabássemos de sentar no mesmo banco numa praça em um dia quente. Você veio de um lado e eu do outro, eu com um jornal e você com um livro. Quero que você imagine para mim um nome e características físicas, apesar de eu já ter dado algumas pistas. Pense num avô, num velhinho que viu na fila da padaria ou naquele senhor que você ajudou atravessar a rua. Sei que você é capaz de me deixar com a cara que quiser e assim, é mais fácil de criar empatia.

Hoje é uma quinta feira de sol, acordei com dois passarinhos na minha janela. Sou viúvo, moro num asilo em uma cidade que nunca tinha visitado. Fui colocado aqui pelos meus três filhos, dizem que foi por meu bem, ou pelo bem deles, ainda não parei pra pensar nisso. O certo é que vivo como posso, e tento ser contente aqui.

Pela manhã caminho até um pequeno lago que temos aqui, gosto de sentar na varanda e tomar uma grande caneca de café deixando o sol bater contra meu corpo e esquentá-lo, fazendo me sentir um pouco mais vivo.

Prezo pelas boas maneiras. Trato muito bem as senhoras que moram aqui, e os senhores também, por que não. Gosto de camisas xadrez, que me fazem parecer mais alegre, e combinam com meus óculos. Gosto muito de música. Tenho um rádio que levo para todo lado, sempre musicando conforme estou me sentindo. Durmo e como bem. Não sofro de moléstias graves, e aos finais de semana, meus netos vêm me visitar, o que de melhor acontece toda semana.

Bem, sou um velho com muitas histórias. Algumas são merecidas de serem contadas, outras não. Vou tentar contar um pouco de cada. Quando fui convidado para contá-las aqui, achei meio ousado. Mas no final concordei com a idéia, e já avisei a todos daqui para lerem meus relatos nesse blog. Serão as mesmas histórias que conservo guardadas, dentro de uma caixa, embaixo da minha cama. Conforme vou escrevendo aqui, vocês irão me conhecendo e sabendo do que acontece na “agitada” vida de um velho. Não sei quando será o próximo texto, mas já aguardo com ansiedade.

Minha participação aqui era pra ser surpresa, por isso não foi citado nada anteriormente.

Até breve.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Auto desestima

Às vezes não queria ser o que sou
tenho vergonha do que fui e medo do que possa ser
Às vezes tenho nojo de mim mesmo
quero arrancar essa pele que cobre algo que eu ainda não conheço

Quero me descobrir, quero saber quem vive aqui dentro
e o que de tão engenhoso este cara trama
cada vez que me levanto da cama, pra cada dia.

Às vezes tenho pena das pessoas
que tem que conviver comigo
tenho vontade de morar numa caverna

Tem dias que eu não me aceito
tem dias que eu não me entendo
dias em que me calo, e que prefiro sentar sozinho
dias em que não quero dividir diálogo
olhares, muito menos afeto

me separo dos outros pra não fazer mal a ninguém
quero voltar pro útero.




foi um dia ruim, só isso e logo passa.

sábado, 11 de setembro de 2010

3:06

3:06

Você me veio à cabeça

Saiu daquele lugarzinho que você se esconde dentro dela.

Gosto quando você tem culpa pela minha insônia.

Quase 4, me reviro mas você não vai embora.

Que bom. Fique mais.

Até amanhecer e anoitecer novamente.

Dorme comigo? Embale meu sono?

Deixe eu sonhar com você?

Só mais um dia, só mais uma noite.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Escritório

Trancado nesse escritório
Só vejo em escala de cinza
Mundo monocromático
De papel e cartolina
Pedra, pedreiro, marreta e cimento
Olho pra fora e lamento
No calendário a foto de um balneário
O entardecer alaranjado
Um senhor pesca sentado
Na calmaria do seu barco
Me vejo impresso no papel
Sem crachá, uniforme ou compromisso
Pesco um peixe, asso e durmo
E acordo na mesa do serviço.



quem nunca pensou nisso?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

hoje tenho

Muito pra falar.
Porém, não sei se é de mim que desejas ouvir.

Paradoxo

Você me faz paradoxo
Dúbio, di, ambíguo em tudo
Num momento estou alegre
Noutros macambúzio
Estou cheio de segurança
E em dois minutos sou o mais inseguro do mundo
Confiante, sem confiança
Adulto, criança
Você me desperta dois lados
Da mesma moeda
Paradoxal, dualidade
Que me confunde
Quando acho que te entendo
Você se traduz em outro idioma
Corro para o tradutor de novo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Não me pergunte.

Andei revirando papéis velhos
em busca de inspiração
consegui alguns espirros
e encontrei um coração

Aprisionado numa carta
tão agradável paixão
de alguém que algum dia
amava outrem sem coração.

domingo, 29 de agosto de 2010

tempo.

O primeiro momento é experimentação
pra ver se combina tudo
pele, beijo, toque
é aquela ânsia de ter um complemento
no corpo do outro, de se fazer completo
numa metade que não é sua
se é que isso é possível.

Vendo se os abraços se encaixam
se o afago no cabelo é tão bom quanto você pensava
se é possível dormir ouvindo aquela respiração
aquele calor vindo do corpo do lado
velando teu sono, te olhando do travesseiro vizinho

Depois de todas as reações químicas e físicas
provadas e aprovadas
é só curtir um ao outro
vão se gastando, se encaixando
as engrenagens vão se acertando cada vez mais
tudo corre bem como num cuco suíço.

Já se entendem numa olhada
já se desejam numa passada
já procuram um ao outro com as mãos
no escuro do quarto
já são cúmplices,
de algo que um, nunca pediu ao outro que fosse
se entregaram na cumplicidade.

sábado, 28 de agosto de 2010

Somos só nós

Somos universos paralelos em confronto,
o encontro cósmico que o instante segreda...
Não buscamos pessoas,
buscamos a certeza na incerteza dos gestos
ante ao espelho.
O que sou semeio em outros
e, a mim, me vejo como um fora sem meio,
sem medo nem ponto fixo ou segredo,
oculto como o mistério por baixo das folhas
e das cores das flores,
como o movimento despropositado que circunda a existência,
como um todo partido, estilhaço
e me dissolvo na flacidez do pensamento,
qual murcha flor dilatada e sem tempo para morrer.

Aconte...sendo

A vida é o agora,
antes
e depois...

Su realismo, mi realidad

É que a realidade surrealizou-se,
a mente compreende agora
o sentido do que não-é,
incorporado a existencia do acontecer...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Tudonumacoisasó.

Cantores de uma música
Artistas de um só ato
Músicos com uma composição
Pintores com um só quadro

O ápice criativo transferido para apenas uma obra?
Ou seria o contrário?
A mediocridade de um único lapso de criação de uma mente?

Palhaços de uma só piada
Escritores com apenas um livro
Filósofos com uma só reflexão
Subcelebridades com apenas um bordão

Tudo que tem se resume numa frase
Num gesto, num impulso

Poetas com um só poema
Jogador com apenas um blefe
Cigana com só um discurso
Malucar com apenas um cacoete.

Nada mais os empolga
Nada aguça mais seu senso criativo
Fadados ao fracasso? Talvez.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Farofa (eu acho que pode ser esse o título!)

A vizinhança dos meus avós,
E de mais gente,
É maluca que só.
Mas tem uma vizinha
Que é mais especial.
Felpuda e malhada,
Originada no mundo animal.
Há pouco corria na rua,
Livre e desimpedida,
A Nicolau é sua,
Ponto de chegada e partida.
Não sei bem de quem ela é,
Sei que tem dono,
Porque tem nome e coleira,
Seu nome é Farofa,
Farofa da Silva Siqueira!
Ela é amiga do gato Zé,
Que como o nome,
É astuto e deu no pé.
Devo no poema citar,
A Ida Maria,
Que os trata,
E dá amor de cortesia.
Outro morador não vi,
Só sei que mora aqui,
Por cumprimento trivial.
Mas não garanto procedência,
E nem valor igual.




Esse poema é da Amanda, ela fez pra minha amiga canina Farofa!

A história é assim, os avós dela moram aqui perto de casa, e um dia ela veio visitá-los e a esperta Farofa havia fugido. Não sei como as duas se encontraram na rua, rolou uma química e até poema. Vamos ver onde isso vai dar então!
Ela fala mal de mim, mas dessa vez eu vou perdoar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Suspiro no hospício

De um lado um louco grita
Quer de volta seu caranguejo
Preso, entre suas mãos
Tinha um belo azulejo.

No outro corredor
Um paranóico amarelo grita
Grita que sente um tremor: Terremotooo!

- Alguém me espreita na janela
Cochichava ela.
Nem pessoa, nem fantasma
Era um mero elevador.

Um sentado
Tentando ganhar um carteado
De si mesmo.

Outro se vê preso numa pergunta
Praticamente sem solução.
De que cor realmente era a pele do Cascão?

Um suspiro lá no fundo
No último quarto
Retrata um ato.

Naquela sala
Nua, de tão distinta alvura
Se destaca uma figura.

Era um louco de paixão.
Dizem que veio sem pressão
Internou-se de própria vontade.

Queria esquecer o que já não lembrava
Os remédios já lhe faziam
Vegetar como uma alga

Mas a cada noite, na hora da novela
Se pegava ali num canto
Chorando, suspirando sem saber por que
De certo pensando nela.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Nosso.

Quero comprar uma
bicicleta pra dois
Te ver brava comigo
por queimar o arroz
A gente pede uma pizza
e viajamos pra Abrolhos
Tu me explica sobre Freud
eu te como com os olhos.


repostagem.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Que (talvez) exista a vida

Tem pólvora nas mãos do assassino
tem pólvora no cigarro do suicida,
de suas mãos exala o cheiro da morte, disfarçada em vida.

domingo, 15 de agosto de 2010

Tume

Tu me apetece
Me enlouquece
Me padece.

Tu me intriga
Me fascina
Me “beijo me liga”.

Tu me ignora
E outrora
Tu me adora.

Tu me pede arrego
E eu me apego
A esse teu ego.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Receita de bolo.

Eu queria fazer uma canção
que falasse do coração
sobre amores baratos
amores em promoção
sem nenhuma razão
dor engraçada
talvez o tempo
o vento
te trague
para eu nunca mais
me veja pensando em você
seria o meu melhor te ter
esperar, para não sofrer
rimar para não doer
abrir mais um cigarro
para ver na janela passar
8 dias por semana
em noites tão belas
quantos coraçoes partidos para se contemplar
e com toda a dedicação
eu desejo
uma canção
mais uma canção para te esperar.


Madrugadas inspiradoras andam acontecendo na casa do meu amigo Emilio, postei em meu nome, mas a letra é dele. Isso porque eu mandei um convite a dois anos e ele nem aceitou. Tá, tu tem mais um chance, a próxima será você quem vai postar!

Valeu Emilio!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sobre um vivente.

Sobrevivo dos restos de amor e dos cacos de diálogos
que chegam até mim como bitucas de cigarro no chão
Sobrevivo das raspas de carinho e das migalhas de atenção
que poucas vezes me dão, quando dum lado entro em auto combustão
Sobrevivo com meio copo diário de um olhar animador qualquer
com uma colher de sopa de auto estima
Sobrevivo com uma pitada de fé
por vezes cega, outras, vulnerável até demais
Sobrevivo com um prato de alegria e uma porção grande de sorrisos
vivo dos restos de sentimentos que tantos jogam fora, pego-os ao chão
sou engraxate da saudade, triste, lustro seus sapatos pretos
Sobrevivo dos meus sonhos guardados em garrafas térmicas
mantendo-os quantes e tomando uma xícara diariamente
Sobrevivo dos resquícios de tesão, e dos entrelaçados fios de amizade
finos, porém, fortes e até duráveis
Sobrevivo quase sozinho, com a minha independência
aparente independência
que necessita a todo momento de um muro de calor humano
Sobrevivo, apenas sobre um vivente.




andei revirando papéis velhos em busca de inspiração.

Mais uma poesia sem nome.

Tenho tantas curiosidades sobre ti
Mas não quero saber agora
Quero descobrir aos pouquinhos
Pelos acasos da vida
Pelos destinos cruzados
Pelos sussuros no ouvido
Quero que mude-me
Quero ser mudado
Conversar horas sem ter um motivo
entrelançando beijos e risos
jogar conversa fora
pelo simples fato de conversar contigo
Queria ser poeta e eternizar esses momentos
aprendendo e desaprendendo
é realmente o que eu sempre te digo
Pego o violão, faço cara de vilão
mas esqueço a letra da música na tua frente,
desconfio que seja esse olhar.




essa é uma repostagem, gosto muito dessa, fiz há muito tempo.
Acho isso muito legal na poesia, ela é atemporal, depende muito do momento.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Fumante por ocasião

A ocasião pedia um cigarro

E ela me pedia o fogo

Eu sem isqueiro.

Pedia socorro.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Menina moça

Casou com uma menina moça
Sem se importar com a meninice
Ele próprio
Menino também
De tudo
Já sabia diferenciar o que gostava
Do que não
E ela também.
Tinha vontade de engolir o mundo
Mas sabia que o mundo
É que nos engole.
Era entregue de todo coração
Pra sua menina moça.
Simples e astuto
Ela assim o admirava
Vaidosa e inteligente
Ele assim a amava
Eram felizes
Se estivessem juntos
E parassem de sonhar
Saberiam que assim seriam.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Cristovão.

Cara, eu gosto muito de conversar com pessoas diferentes, que tem coisas interessantes pra me contar. São pessoas que passam poucos minutos comigo, mas que me marcam e que sempre me ensinam alguma coisa. Geralmente acontece isso quando estou no trabalho. Chega um cliente pede o que quer, e a conversa rola, passando já para o lado pessoal. Bem, nunca faço muitas perguntas com medo de ser intrometido e chato, mas sempre que posso, gosto de conversar sobre o que a pessoa quer falar, independente do quê. É só conversa, e isso nunca matou ninguém.
Aconteceu essa tarde uma coisa assim. Chegou um senhor, digo senhor pelo respeito, mas seu espírito devia ter uns 18 anos, fisicamente tinha uns 55 por aí.
Tá, vou descrevê-lo pra vocês terem idéia de quem eu estou falando. Alto, gordo, moreno, cabelo curto, na voz tinha o timbre do Tim Maia, o que preenchia o ambiente como se fosse uma ventania. Simpaticíssimo, muito mesmo! Veio comprar uma lente para seus óculos, e como a conversa se prolongou, ficou bem uma hora sentado contando um pouco da sua vida.
O melhor de tudo era sua visão,(mais um trocadalho do carilho mesmo) (tá, agora tu me fala: o cara vai numa ótica e o melhor dele é a visão) digo da vida, ele contou que era vendedor, acho que daí já se sabe porque tinha tamanha simpatia e lábia. Contou que fez uma cirurgia na perna, que quase a perdeu, que jogou futebol como profissional por oito anos, que morou em Sampa, Rio, Bahia e o diabo a quatro, que sobreviveu a uma infecção com quatro bactérias, que achava a os sistemas elétricos baseados no sistema sanguineo, de artérias e veias (essa observação me fez perder mais meia hora pensando sobre) que tinha uma irmã com a pressão arterial a 27! Que ela tinha sofrido 12 derrames e ele a achava Campeã Olímpica de Derrames, e falava sobre isso na maior naturalidade, enfim, o cara era um contador de histórias bem aqui na minha frente. É provável que eu jamais o veja novamente, dele só sei o nome que por sinal combinou muito: Cristovão! Cara, que nome perfeito para a pessoa. Ele era a personificação do nome Cristovão, alto, vozeirão, meu, que pira, já tô viajando muito. Eu e as palavras.
No final se despediu, não levou a lente, mas a conversa me valeu a tarde. Pessoas assim alegram meu dia, acho que não só o meu. Por onde passam deixam um rastro, uma inspiração.
Tem outro caso, uma senhora de São Paulo que veio pra cá, mas isso é pra outro post.
E assim vou me formando. Acredito que somos feitos de pequenos pedaços que vão se juntando ao longo da vida.
Seu Cristovão, obrigado pela conversa.

domingo, 8 de agosto de 2010

Revelações de um futuro pai.

Quero ter duas filhas
Uma chamada Margô e outra chamada Sofia
E se nascer menino
Só não o chamo Valdevino
Quero um nome curto tipo Léo
Quero brincar, ensinar
Fazer cócegas
E quando levar o primeiro tombo
De bicicleta quero estar junto
Quero levar na casa da avó
Pra ser tratado a pão de ló
E no colo do avô
Descobrir o que é o amor
Nessas horas suspiro um ai
Como deve ser bom ser um pai.



pro dia dos pais né.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Insônia

Último gole d’água
Procuro imaginar formas
Para as luzes refletidas no teto
Que vem de fora
Vem da rua
Alguém puxa meu sono
Insônia
Penso num café
Num cigarro
Encontro um elefante no forro
Me volta a sensação
De mais alguém no quarto
Acendo a luz,
Olho embaixo da cama
Marilyn me observa atenta
Do quadro ao lado
Troco de lado
Talvez resolva e me acalme
Cinco noites sem dormir
Procuro desenhos no teto
E um pouco de sono também.

domingo, 1 de agosto de 2010

Cabeça

Isso tudo é muito confuso
eu surto, eu grito, eu pulso
acorde-me, grita-me, me chame
não me deixe cair no que mais me assusta
no que mais me causa repulsa
sei que sozinho eu não consigo
me dê a mão, me dê razão
me dê Sonhos!

pra eu não lutar em vão.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Partido Alto!

Seguinte, são 2:49 da manhã, meu café acabou, meu player mandou Partido alto, cantada pela Cássia Eller, uma música do Senhor Chico Buarque de Holanda!
Uma puta música por sinal, desculpe o palavrão, mas ele se faz necessário nesse caso!
Eu gosto bastante da letra e da forma como a Cássia interpreta a canção. Vale o relato aqui, tem até coisas com as quais me identifico, tipo, ah vocês não vão querer saber.Vai um trecho aí pra aguçar a ouvir a música!



Deus me deu mão de veludo prá fazer carícia
Deus me deu muita saudade e muita preguiça
Deus me deu perna cumprida e muita malícia
Prá correr atrás da bola e fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia
Diz que Deus dará, diz que dá, não vou duvidar,ô nega...

...Deus me fez um cara fraco, desdentado e feio
Pele e osso simplesmente, quase sem recheio
Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio
Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio
Que eu já tô de saco cheio
Diz que Deus dará, diz que dá, não vou duvidar,ô nega...


até! postagem por impulso e falta do que fazer.

sábado, 24 de julho de 2010

Meu bem...

Você merece um poema.
Tentei fazer.
Querer, eu quis.
mas não consigo poemar quando estou feliz.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Palavra Legal

Algumas palavras tem uma sonoridade incrível, outras quando são lidas nos remetem a alguma coisa tendo um significado totalmente diferente. Muitas vezes eu me pego lendo algo e preciso recorrer ao dicionário,tem dias que fico fuçando pra descobrir palavras novas. Nessa semana descobri algumas e elas são as "Palavras da Semana".

Amarume: amargor com azedume. Não é meu neologismo, existe mesmo!
Acho que isso foi inventado por alguém que comeu algo muito ruim, daí quando tinha acabado de experimentar outro alguém chegou e perguntou: então, o que achou?
O sujeito na ânsia de dizer os maiores impropérios daquilo que tinha acabado de comer, se enrolou e disse: Amarume! pronto, colou.

Sagitiforme: em forma de seta.
Isso me lembra muito de sagitário. Quando li achei que era algo relacionado. Não saco muito de signos e tals, mas se pessoas desse signo tem essa caracteristica, elas nunca ficam sem uma direção a seguir!(nossa, essa foi muito ruim, desculpe.)

Lépido: risonho, alegre.
Aí você me pergunta: Então um lepidopterologista é algum especialista em alegrias, em fazer os outros rirem, é isso? Então um palhaço é um lepidopterologista? Não! Lepidopterologista é um especialista em lepidópteros, que são nada
mais nada menos que mariposas e borboletas. Louco né.

Bazófia: Quer dizer fanfarrice, mas no dicionário também é sinônimo de farofa, não a comida, mas farofar nas conversas, prosa, conversa fiada.
Imagine a cena comigo: Você de boca cheia de farofa tentando falar bazófia!
Chuva de farofa em todo mundo. Ou na mesa o pai se dirige ao filho: Querido, por favor pare com essa farofa e me passe a bazófia, digo pare essa bazófia e me passe a farofa.
eheuheuehuehuee

Pilhéria: Piada
Me lembra pilha, de empilhar alguma coisa. Empilhar piadas quem sabe, uma grande pilha de piadas,que formam uma torre na qual você pode subir e em cada degrau que pisa é contada uma anedota, você ri e sobre mais um, ao final da escadaria seu maxilar não consegue voltar ao normal.
Tomara que não seja a torre do ari toledo. ¬¬


Verborrágico
: Juro que pensei numa doença grave, um vírus disseminado pelo perigoso mosquito Verborrão, comum nos países tropicais e em bares da cidade. Verborrão nos cartazes! inimigo número um dos agentes de saúde!
Diego, não vai trabalhar? xi, hoje tô meio verborrágico!
Mas não tem nada a ver com doenças, mas ser verborrágico é falar muitas palavras,
porém com a mesma idéia, mesmo conteúdo num discurso extenso.

Engraçado que essa palavra também se linca com outra muito boa:
Logorréia: que a principio me lembrou diarréia, haha
Logorréia é uma necessidade incoercível de falar. Algumas pessoas que não podem controlar o quanto falam.
Curioso, quando converso com algumas pessoas, logorréia tem sim, o mesmo sentido de diarréia. não preciso explicar né?


Bitácula:Uma das mais sonoras e que gosto bastante. Quem convive comigo sabe que gosto de dar forma as palavras.
Formas físicas mesmo, gosto de pensar em como elas se formam na boca. Fale bitácula. Sinta como essa palavras mexe com toda sua boca. É uma palavra gostosa de ser dita. Como elas, há muitas assim, especialmente as que tem L.
Bitácula é uma pequena venda,um armazém.
segundo a Amanda é uma palavra semi existente, só porque ela não conhecia.

Depois de ler tudo isso você me pergunta "Porra, o que é isso?"
Porra é uma clava com saliência arredondada em um dos extremos, e você pensando besteira né!


até.
ósculos e amplexos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Todos os ventos que sopravam a seu favor, agora dão os últimos suspiros.

Uma hora o vento vira
E desfaz essa tormenta
Se o seu velho barco aguenta
Tu é que não há de desistir!

Teus braços se fortificam
De tanto remar contra a corrente
Teu instinto se aguça
Ao que encontrará pela frente
Tua luta não é justa
Mas tu relutas, não te entregas
Lembra-te que em terra firme
O que te espera valerá a pena.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A quem interessar possa.

Então, se alguém ainda vem aqui pra ler, eu peço desculpas pela falta de postagens, mas eu vou tentar manter atualizado a partir de agora.


Pior do que a falta de tempo, era a falta de inspiração!

até.

Café sintético

Café sintético

Já faz quinze anos
Que eu luto com meu superego
Perdi as contas de quantas frustrações
Eu carrego comigo
No bolso as calça eu tenho um jornal velho
Que me diz tudo o que eu
Não queria saber num domingo

Café sintético não me satisfaz
Pessoas de plástico
Eu já não quero mais
Café sintético eu tomo em frente à TV
Esquece a chuva baby, só venha aqui me aquecer.

Do meu vinil sobraram os riscos
E no meu prato isopor
Um bombom que não me agrada
De um sabor amargo e doce
No armário tenho um terno em retalhos
E um violão, sem um cantor
No meu rádio toca um rock
No meu peito falta amor.



Era pra ser uma música gravada pela banda PacMan, mas a banda acabou então ela ficou somente como uma letra.
Essa tem a colaboração do Emilio!

Sofre guidão

Seu Selim não entendia
Porque a bicicleta que era sua casa
Seria desmontada.

O Pedal se revelara
Um tanto quanto egoísta
E foi embora sem o par.

Os aros, “irmãos gêmeos”
De criação
Tiveram pena do Seu Guidão
Que seria vendido ao ferro velho.

- Pobre Guidon!
- Tão legal e como sofre. – disseram uníssono.
Sofre guidão.

As Maçanetas foram embora
O Freio acelerou sua partida
O Quadro pediu arrego
E o Pé de vela, se acendeu
Pra pagar promessa.


(:

Senta e toma uma cerveja.

Um menino fala com o irmão do seu pai no MSN.
- Pedrinho! Vê se na geladeira da tua casa nao tem aquela cervejinha gelada!
- Opa, espera aí, não tem til!
- Nao? Ah, valeu então!
- Quer dizer, não leva til!
- Mas eu nao vou levar, vou beber aí!
- O quê?
- A cerveja, oras!
- Ah, tá falando da cerveja?
- Sim, você nao?
- Não! Tô falando do acento!
- Qual acento?
- Não tem til!
- Isso você já me falou! Qual acento?
- Não tem o acento til!
- Mas eu não pedi acento! Pedi cerveja!
- ...

E ficaram nisso a tarde toda, o tio com sede e o sobrinho frustrado.

domingo, 6 de junho de 2010

Dia dos Namorados

Esta semana, alguns textos em homenagem ao Dia dos Namorados. Aproveitem :D ¬¬


Está procurando presente pro dia dos namorados?"
"Sim. Estou.""Qual o nome dele?"
"Z-Zingo."
"Você não tem namorado, né?"
"Não, não tenho."
"Você quer ver roupas pra você?"
"Sim, por favor."

***
Então eu fui até a seção feminina e comecei a passear as mãos pelos cabides, sob o olhar atento e intimidador da vendedora. Para evitar contato visual, simulei um interesse acima da média em uma das blusinhas expostas.
"Dessa aí eu também vou ter amarela, branca e nude", disparou. "Mas se eu fosse você experimentava a preta. Preto emagrece."
Não pude deixar de perceber a ironia daquele comentário, já que a vendedora em questão era indiscutivelmente gorda.
"Vou te dar uma dica", ela anunciou. "Tons claros engordam."
"Vou te dar outra. O que engorda é comida", rebati, vendo o semblante simpático dela se desfazer num passe de mágica. "Me traz uma branca, por favor."
"Vou pegar. Tenho certeza de que o Zingo vai achar linda."
"Não fale Zingo nesse tom."
"Que tom?"
"É porque ele é nigeriano, né?"
"Quê?"
"Racista! Ainda vem me dizer que preto emagrece!"
"Do que você está falando? Não existe nenhum Zingo."
"Claro que existe! Em algum lugar, neste exato momento, tem um nigeriano chamado Zingo que adoraria ser meu namorado."
"Tenho certeza disso", afirmou, enquanto ajeitava a sobrancelha só para mostrar a aliança na mão direita.
"Ah, olha só, você tá noiva", constatei em voz alta, enquanto ela sorria, deleitando-se. "Vai casar de vestido preto?", concluí, mas agora só quem sorria era eu.
"Pelo menos o meu noivo não é imaginário."
"Deve ser um sujeito interessantíssimo. Aliás, vocês dois devem formar um casal dos sonhos. Uma pena eu não poder ir ao casamento."
A vendedora engoliu no seco.
"Você ainda vai querer a blusa?"
"Não. Mas eu vou ali na loja ao lado e comprar cinquenta iguaizinhas. Depois vou passar aqui com as sacolas, igual a 'Uma Linda Mulher'. Sabe aquele filme? Em que a Julia Roberts é linda, e magra?"
"E prostituta?"
Minha vez de engolir no seco.
"Eu não tenho resposta pra te dar agora, mas quando tiver", e eu disse isso com uma expressão ameaçadora, "eu te mando um e-mail".
Silêncio.
A vendedora não parecia ter se abalado, então eu decidi ir embora, antes que aquilo ficasse constrangedor. Ok. Maisconstrangedor.
Ela mal havia saido do lugar quando eu voltei, tentando parecercool.
"Me ocorreu agora que eu não tenho seu e-mail. Será que você poderia me passar?", pedi, enquanto tirava uma caneta e um pedaço de papel de dentro da bolsa.
"Anota aí: gordaescrota@gmail.com..."
Então eu parei de escrever e olhei para ela.
"Esse não é seu e-mail, né?"
"Não."
Pequeno silêncio.
"Você vai me dar seu e-mail?"
"Não."
"Hum...", soltei, enquanto pensava em alguma respostinha boa para finalizar a cena. Mas na falta de uma sacada espetacular, fiz o que me pareceu mais prudente no momento: baguncei todas as roupas dobradas sobre o balcão e saí correndo.

retirado do Adorável Psicose


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Leia rápido!

E outra vez te procuro
no claro, no escuro
no viaduto, na ponte
me conte
pra onde tu foi.
No pote de açúcar, na geladeira
na rua
tu nua em cima da cama
que drama
essa maldita procura.

Diferentes

Sou dó tu é fá
sou cá tu é lá
sou sim tu é não
sou pé tu é mão.

domingo, 9 de maio de 2010

Cura para toda maluquice

É uma LOUCURA
a VIDA
Ser tão NORMAL ASSIM...

Já sei de tudo

Sim, eu descobri tudo...
Fique a vontade para tirar a máscara do engano,
Ah confessa: está tudo o mundo contra mim...
Eu sei, é um complô.

Oh céus, por distração,
Perdi a reunião social na qual os destinos seriam decididos,
Pronto, decidiram por mim...
Pode rir, fique a vontade,
A minha desgraça é um gracinha, não é?
Mas, quem era o palhaço?
Porque isso eu não consegui descobrir até agora...

Todos dêem as mãos e prostrem-se
Que eu aplaudo...
A peça acabou,
A festa acabou,
O boneco de madeira criou vida...
Está diante dela, rogando: acabe, por favor.

Tudo passa
Levando consigo a minha morte
(a morte passa veloz e não me oferece carona)...
Mas, atenda o meu pedido, não é muito que lhe peço,
É nada, ou quase...
Quero apenas a simplicidade de uma morte
Ao fim de tarde
E não ter que acordar sempre ao início do dia,
Ao início da noite afoita.

Diga, diga tudo que eu já sei,
Porque eu já sei de tudo,
Estão se rindo de mim?
Ria,
Mas, não deixe que seus olhos velhos me façam envelhecer...
Todos contra mim,
Maquiáveis, Humes,
Meninas burras que conhecem inconscientemente,
Filósofos poetas e artistas plásticos,
Olhares vazios
Que aumentam ainda mais o medo de mim mesmo...

Surtei, junto com o mundo inteiro,
O ontem parou, olhou para mim, e passou...
São Pedro está com diarréia,
As vozes mudas fazem-se escutar de longe,
Mas, não diga nada.

Vida

Aí vida...
Se eu sou o mau,
Arranque-me pela raiz.

sábado, 8 de maio de 2010

Personificação

Eu adoro a tua boca.

Mal conversamos.
Você aparece, me usa como quer, e o resto do tempo, nem pensa em mim.
E eu fico aqui, te esperando, pra sempre.
Juro que serei sua, só sua, de mais ninguém.
Gosto quando esquece o box do banheiro aberto,
e fico olhando teu corpo, nu, tomando banho.
Sei que você já teve muitas outras
E também, que a qualquer hora, pode me trocar por outra
Ai, ai...
Como é dura
a vida de uma escova de dentes...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Xixi News.

Um terço da vida
nós passamos nele
Cubículo ou espaçoso
recebe visitas distintas
ansiosos, apressados, apertados.
Umas dizem:
"Ai, banheiro alheio eu não faço!"
Os químicos quebram um galho
mas não são a mesma coisa.
Palco primário de cantores amadores
a esponja é microfone
e o chuveiro energia
Inverno, verão, calendário certeiro
vaso, papel, pia, balcão,
cantoria, sacanagem, espuma e sabão
tudo cabe num banheiro.


Texto para o Informativo XixiNews, que será distribuido somente nos banheiros de estabelecimentos comerciais.
Ideia ainda em andamento.

A breve estória da vida de um jovem sem controle das suas faculdades mentais.

Hey mãe!
Concordo contigo
eu corro perigo
fazendo o que digo.

Hey Mãe!
Me dá um trocado
eu vou jogar dados
num cassino afamado.

Hey Mãe!
Quando é que tu volta?
Me traga outra torta?
de frango, então.

Hey Mãe!
Teu filho é careta
agora ele pensa
bem mais com a cabeça.

Hey Mãe!
Me diga quem sou
essa tal confusão
me enche de horror.

Hey Mãe!
Mas pense comigo
não corro perigo
cercado de amor.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Pastel

Se conheceram no "Congelados"
veio um de cada lado
e suas mãos tocaram
a mesma bandeja de pastel
que por sinal era a última

Os olhares se levantaram
se cruzaram
por um momento se odiaram

-" Fique à vontade, pode levar,
quem sabe empadinha me venha a calhar!"
disse ele.

Ela contestou:
-"Leve você, pelo seu perfil não
sabes cozinhar e congelados são
preferidos de homens desprevenidos!

Ele discordou!
Disse que fazia de tudo
aquilo era emergência
pra uma "parenta do interior".

Trocaram amenidades
descobriram que nasceram na mesma cidade
e que a parede da sala
tinha a mesma cor.

Esqueceram do pastel
agora o sabor era esse descobrimento
um do outro,
foram se descongelando, se fritando.

O mesmo gosto por Ray Charles
o mesmo sabor de picolé
resolveram decidir a peleja
por aquela solitária bandeja

Ele levaria
mas ela o acompanharia
para seu apartamento

pastel, café e cafuné.

Imobiliária.

E tu que morou aqui
não te cobrei aluguel
preferia permuta
morada por carinho
me pedia com jeitinho
pra ficar só mais um mês.

E assim do meu coração
fizeste um bairro
com ruas, vielas, casas
e em todas elas
era você que morava.

Um dia visitando
sua cidade notei
o que tinha pra alugar
eu doei
mas você saiu e não deu satisfação
sou locatário
com caneta e contrato
na mão.

sábado, 17 de abril de 2010

E aí...

Saudações homo pensantianos...
Gostaria de fazer-vos convite: em junho (eu acho) terá a semana academica de filosofia na unioeste...A sexta feira dessa semana será voltada para as artes, dando enfase a poesia, por isso, terá ou um sarau ou uma exposição de poesias...o que eu queria saber é se vcs estão afim de participar com algumas de suas poesias, até p divulgar o blog e tals e a vossa expressão poética também, por que não...
então, o convite está feito, vcs terão tempo para pensar nisso, bem como, no que expor... gostaria muito que vcs participassem, mas fica a critério de vossa vontade...
ahh, eu já falei com o diego e ele topa participar...
aguardo respostas e propostas...

abraços

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Injetável.

Você é uma injetável
uma subcutânea
invasora da minha pele
chega nada querendo
me fura,
me injeta teu veneno
corrente sanguinea
se entrega.

Você corre em mim
artéria carótida
plaquetas, glóbulos
faz parte de mim

Tu é injetável
tu é subcutânea
tu é dolorosa,

me perco em teu efeito.

Resto.

São três grãos num prato.
São dois dedos d'água.
Um restinho de alegria.

Resto é apenas "um tiquinho",
é um monte em diminutivo,
resto são duas sílabas mesquinhas.

domingo, 11 de abril de 2010

W.O.

Joguei a toalha, e o resultado
não podia ser pior.
Estou cansada, alguém poderia
enxugar o meu suor?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Janela.

E enquanto eu durmo
você fala.
Do dia, da vida
da minha falta.

No seu dia, na sua vida
na sua fala.

Viajo.
Não escuto sua uma palavra.
Imagino nua a vizinha do lado.

Não sigo tua agenda
não vou aos teus compromissos
teu relógio não é meu
eu sigo os meus instintos.

Você fala e eu saio do corpo
só corpo presente
na tua frente.
Alguns ahans pra fazer
parte do teu clã.

E imagino nua a vizinha do lado
eu pelado
fumando um cigarro.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Relacionamentos modernos

Até o discurso do padre deveria ter adendo
"Até que a morte os separe"
Ou o primeiro ricardão
"na saúde, na doença"
na TPM, no comportamento obsessivo e na depressão pós-parto.
As pessoas guardam sua privacidade como se fosse sardinha numa lata inviolável.
Já vi homem que não dá carinho porque seus pais não lhe deram
E quem deve pagar por isso é sua mulher e seus filhos
Isso quando ela quer ter filhos
Pois tem medo dos seus seios caírem ao amamentar
e seu marido trocá-los por outros de 20 anos
ou por aqueles de silicone.
E quando vocês não tiverem com vontade de transar
Assistam vídeos de outras pessoas transando
Vejam outras pessoas na webcam
Entrem em salas de bate-papo
Ou vão a casas de swing
Mas não "vale" sentir ciúme tá?
Cobrar pode, ser cobrado não pode.
Curtir pode, gostar não pode.
Queimar sutiã pode, dividir a conta não pode.
Sobrevivemos de amostras grátis de carinho
Pois ninguém quer pagar o preço do pacote completo.
O mundo virou um brande bacanal
"Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também"
Uma orgia gigante
Que ou estamos participando
ou estamos jogando água fria quando não gostamos da moçoroca na qual nos encontramos.
Querer fidelidade do parceiro é um insulto à sua masculinidade.
Nessa falta de relacão que tem os "relacionamentos" modernos
Não me admira que ninguém queira se relacionar.
Será que a galera da caverna era mais feliz
quando o único protocolo era uma paulada na cabeça?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Algo

Sou o bilhete perdido
para a viajem adiada,
esquecido entre as páginas um e dois
de um livro sem páginas...

Sou eu... E, talvez, serei sempre
o que nunca fui:
A pedra sem êxtase,
o céu negro sem mística,
o pastor agnóstico,
o bruxo bêbado de fígado metafísico...

Ou, ainda, a noite triste
em que os mortos se alegram.

Me completa

tu alfa
e
eu beta.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Vidinha.

João.
Maria.

João e Maria
João, Maria e três anos.
João, Maria e Bernardete.

João.

Maria.

João...suspira Maria.

João e Maria!!
João, Maria e segunda chance.

João, Maria e Solange.

Maria. Sozinha.
João e pedrinhas na janela.
Maria, finge não ouvir.

João e Solange.
João e Margô.
João e as outras.

João e a bebida.
Maria e a choradeira.
João e a rua.
João e as pedrinhas.

João...Maria...e o tempo.

João, Maria e casório!
João, Maria e Joãozinho.
João, Maria, Joãozinho e Glorinha.
João e família.

João, Joãozinho. Conversa de pai pra filho.
Maria, Glorinha. Conversa de mãe e filha.

João, Maria e filhos crescidos.

João, Maria e "Pega na minha mão?"
João, Maria e a velhice.
João, Maria e o desamor.

Maria e a morte.
Maria e a solidão.

só silêncio
sem Maria e sem João.

Fossa.

E uma vez mais
eu te procuro
reviro tuas cartas
teus carmas
mas não te acho.

Só ficou dentro de mim
uma marca, como uma digital

me pego lembrando de ti
das palavras loucas
e dos ataques de riso
preciso,


urgente de uma dose!
uma dose de ti.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Canis Major

Noite, imensa cadela de pulgas brilhantes
uiva teu som de humanidades
na calada do sol dormente...

domingo, 14 de março de 2010

Eu queria te palavrear
te escrever, te desenhar
te ver sair nua
da ponta da minha caneta
tu,
formando uma frase
seus braços seriam as crases
e seu coração
um ponto de interrogação!
Das tuas pernas
palavras maternas
e dos teu quadris
monossílabos pueris
quero te revirar
num poetrix
te ler
te interpretar
e sobre você
deixar de ser um leigo.

Tengo fome.

Comi um pedaço do meu corpo
ainda sinto o gosto
minhas glândulas salivam
e as papilas se excitam
Como eu chamo isso?
auto canibalismo?
sou um canibal de mim mesmo?
não sei, e que se dane!

Garçom!
traga mais um copo do meu sangue
e outra porção do meu braço no capricho!

Rato de laboratório

Corro,
bebo água
ou não faço nada

despejo
o meu desejo
nessa jaula

tomo
um remédio
contra o tédio

sem luz, sem ar
sem praia
já sei, virei cobaia.

Ando, de um lado
para outro
oposto

corro
de novo
pra ver se morro

junto minhas vontades
e me lanço
contra a grade

pronto!
Pus fim
ao sofrimento

fugi!
condição que eu criei
cobaia que virei.