segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Abelão

E descendo a ladeira, saltitando os degraus
Vem o requisitado Abelão.
Negro do cabelo duro, samba de partido alto
Panamá e violão
Abel é no aumentativo em estatura e reputação
Conhecido em todo o morro, carismático de plantão
Abel ajuda o povo e descola seu ganha pão
Tudo assim, junto e reunido
Mata dois coelhos, então.
Sua vó desde menino lhe ensinou ter bom coração
E seu pai, seu criador, já lhe dizia:
- “Não fique sem trabalhar não!”
E Abel é personagem principal da história em questão.

Um dia, numa viela apertada de sua favela natal
Abel foi alvo errado da polícia, foi confundido com bandido
Ou policial da milícia.
Algemado, humilhado foi pra dentro da viatura
E a polícia saiu vaiada
Da população levando dura.
Abel, inocente até o último fio do seu duro cabelo
Se defendia dizendo: “Negócio alheio, não meto o bedelho.”
Mas o detetive, ruim de sangue e de humor
Torturava, queimava-o com cigarro – “Se não falar, vai sentir mais dor!”
E Abel sem ter um “a” para dizer, entregou até o que não tinha
Pra só assim, parar de sofrer.
A espera do julgamento, transferido para a cadeia
Abel chorava toda noite, esperando Cidinéia.
Sua negra cheirosa e carinhosa
Que mais do que comida e cigarro
Vinha lhe pôr a par das prosas.

Ela aparecia todo domingo, bem cedinho
E lhe contou que a ajuda não tarda
- “A turma toda já vem vindo, confia e aguarda!”

E naquela terça feira em questão, o morro todo se mobilizou
-“Vamô lá, salvar o estimado Abelão!”
E descendo em retumbada, barulhenta multidão
Com uma só estocada derrubaram o portão
Invadiram a cadeia e dominaram pífio batalhão
E sob o sol forte do Catete, abriram a cela do negro Abelão!

Abel não se continha de tamanha alegria
Sua turma, seus vizinhos, até Dona Flor de 90 anos também vinha
Com a frigideira em punho, lá num canto batia num guarda
E a turma reunida, descendo e subindo as escadas.
Com as forças de mil braços, Abelão já carregava.

E foi assim, com uma surpresa de um cavalo de Tróia
Que o morro todo, pôs fim a essa história
Libertado e inocente, Abel sorria, apesar de faltar-lhe um dente
Resultado da tortura daquela noite de amargura, esquecida na festa de agora
E pedindo um tempo ao samba, com seu ego nas alturas
Abel quis fazer um discurso, e agradecer tamanha ternura.
- “Pessoal que eu amo tanto, aqui nasci cresci e me formei
Aqui sempre fui tratado e estimado como um rei
Agradeço tamanha credibilidade, por terem atravessado a cidade
Pra me livrar do que não fiz!”

Na roda de samba, entre cervejas e cuícas
O povo sorria e era feliz.

Abelão com o copo em punho propunha um brinde a todos.
- “Raízes plantadas nunca são deixadas pra trás
Agradeço a amizade e aqui lhes digo mais
Povo igual esse não há entre os mortais
E que dessa turma e desse morro
Eu não me afaste jamais!”

Viva Abel! Em coro uníssono! Ganhara até uma nota no jornal.



não revisei, tô com preguiça.

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