segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Suspiro no hospício

De um lado um louco grita
Quer de volta seu caranguejo
Preso, entre suas mãos
Tinha um belo azulejo.

No outro corredor
Um paranóico amarelo grita
Grita que sente um tremor: Terremotooo!

- Alguém me espreita na janela
Cochichava ela.
Nem pessoa, nem fantasma
Era um mero elevador.

Um sentado
Tentando ganhar um carteado
De si mesmo.

Outro se vê preso numa pergunta
Praticamente sem solução.
De que cor realmente era a pele do Cascão?

Um suspiro lá no fundo
No último quarto
Retrata um ato.

Naquela sala
Nua, de tão distinta alvura
Se destaca uma figura.

Era um louco de paixão.
Dizem que veio sem pressão
Internou-se de própria vontade.

Queria esquecer o que já não lembrava
Os remédios já lhe faziam
Vegetar como uma alga

Mas a cada noite, na hora da novela
Se pegava ali num canto
Chorando, suspirando sem saber por que
De certo pensando nela.

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