domingo, 24 de janeiro de 2010

Em cena não se encena

Talvez viver
Seja preparar-se para
A cena e encenar
Sem espectadores,
Representando as dores
A quem as sente e presencia...

Viver é derrotar o oponente
Que se suicidou antes
E conviver com a constante
Inconvicção de ser o vencedor,
Com o orgulho ferido
Sem luta
E a impossibilidade de
Uma posterior vingança,
Essa que seria desprendida
No suor do corpo-a-corpo.

Mas meu adversário ausente
Não se ausentou da derrota,
Antes me retirou a vitória,
Tirou-me o fim que ensaiei,
Nada foi tudo o que houve
Sem ter (aconte...) sido,
Havia erro,
Faltava certeza e obviedade...

Ó inútil preparação épica
Para o imprevisível fim trágico,
Preparação meticulosa
Para o que não acontece,
Gravação renitente
Dos sonhos esquecidos...
Vida larga, ladra dos meandros,
Ladra a vida daninha
Regada a sublimes momentos escorridos...
Vida real, interpretação atrasada
Dos atos encenados.

Em cena a mesma mão
Que afaga
Acena,
Mão do sonho e do
Acordar-se a tapas
Realmente representados,
Fielmente traídos
Em sua dor verdadeira...

O problema de encenar é que
Não se expressa tudo o que se
Quer ou sente,
O ator leva consigo
O fechar das cortinas não abertas,
E a sensação
De não saber existir
Não cabe no papel...

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