quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Muito prazer. Pode me chamar de Avô.

Outro dia me veio a vontade de relatar os poucos, porém, curiosos fatos da minha vida. Escrevo meio tremendo, a mão já não me ajuda, mas é a emoção de cada página que a faz tremer ainda mais. As lembranças que se aguçam me deixam cada vez mais vivo e isso é bom.

Conforme passa o tempo eu descubro que não estou inserido nele. Não que o tempo não passe por mim, isso não. Queria ter tal poder, mas infelizmente não tenho. Sim, já estou velho e as dores denunciam minha velhice. O modo de andar, o raciocinio mais lento, os cabelos prateados, a alcunha de avô, isso tudo também me denuncia. Estou velho só fisicamente, isso é o que me importa.

Acredito que não precisaremos de apresentações, eu não digo meu nome, nem minha idade, afinal, você não irá me dizer o seu. Vamos conversar como se fôssemos dois anônimos, como se acabássemos de sentar no mesmo banco numa praça em um dia quente. Você veio de um lado e eu do outro, eu com um jornal e você com um livro. Quero que você imagine para mim um nome e características físicas, apesar de eu já ter dado algumas pistas. Pense num avô, num velhinho que viu na fila da padaria ou naquele senhor que você ajudou atravessar a rua. Sei que você é capaz de me deixar com a cara que quiser e assim, é mais fácil de criar empatia.

Hoje é uma quinta feira de sol, acordei com dois passarinhos na minha janela. Sou viúvo, moro num asilo em uma cidade que nunca tinha visitado. Fui colocado aqui pelos meus três filhos, dizem que foi por meu bem, ou pelo bem deles, ainda não parei pra pensar nisso. O certo é que vivo como posso, e tento ser contente aqui.

Pela manhã caminho até um pequeno lago que temos aqui, gosto de sentar na varanda e tomar uma grande caneca de café deixando o sol bater contra meu corpo e esquentá-lo, fazendo me sentir um pouco mais vivo.

Prezo pelas boas maneiras. Trato muito bem as senhoras que moram aqui, e os senhores também, por que não. Gosto de camisas xadrez, que me fazem parecer mais alegre, e combinam com meus óculos. Gosto muito de música. Tenho um rádio que levo para todo lado, sempre musicando conforme estou me sentindo. Durmo e como bem. Não sofro de moléstias graves, e aos finais de semana, meus netos vêm me visitar, o que de melhor acontece toda semana.

Bem, sou um velho com muitas histórias. Algumas são merecidas de serem contadas, outras não. Vou tentar contar um pouco de cada. Quando fui convidado para contá-las aqui, achei meio ousado. Mas no final concordei com a idéia, e já avisei a todos daqui para lerem meus relatos nesse blog. Serão as mesmas histórias que conservo guardadas, dentro de uma caixa, embaixo da minha cama. Conforme vou escrevendo aqui, vocês irão me conhecendo e sabendo do que acontece na “agitada” vida de um velho. Não sei quando será o próximo texto, mas já aguardo com ansiedade.

Minha participação aqui era pra ser surpresa, por isso não foi citado nada anteriormente.

Até breve.

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