sábado, 29 de janeiro de 2011
Devaneios de calçada
Não adianta ficar mais atento. O olhar procura algo na multidão, que nem mesmo eu sei o que é. Quantas pessoas na minha frente, quantos olhares que vagam em direções opostas a minha, quantas manchas de pensamentos pairando sobre o ar. Multidão que vaga sem rumo certo, apesar de dizer com absoluta certeza pra onde está indo. Pra onde estou indo? Me questiono em meio a cotoveladas e pedidos apressados de licença. Caminho sem relógio entre gente sem tempo a perder, sem dinheiro a perder, sem nada a perder. Muitos anseios e muitas obrigações. Que sentimento é esse que me faz querer gritar na calçada, atraindo olhares reprovadores dos engravatados e das maquiladas de plantão? Sobem e descem num frenesi charmosamente absurdo. Pastas nas mãos. Enquanto uns pastam capim em outros pastos. Esse mundo tá indo rápido demais. Essa coisa de ter que ser alguma coisa já não me passa na garganta. Eu vou ser o que eu quiser e desde já eu digo, não devo satisfação disso a ninguém. Eu quero escolher, e escolho sentar na calçada e ficar olhando a multidão passar, contando quantos passos faltam para chegar ao trabalho, ou quantos minutos terão pra ficar em casa. Pare o mundo, tem gente que quer e precisa descer.
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