terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Chegamos todos a lugar algum

Vamos todos
Num só desejo...
O de desejar o que quiser,
O que não tem, o que ninguém vê...
Ou, quem sabe? O que nem pode acontecer.
Vamos todos, fazer o que não vamos fazer.
Vamos fazer? Vamos, por mero acaso...
Por que não iríamos?

O que?
Não, não vamos.
Mas, ainda, vamos todos
Com a mesma e múltipla
Solidão.
Vamos, cada qual faz o seu ser e navega...
Vamos, romper unidade
Identidade desfazer.
Vamos todos, quando, na verdade,
Sou eu que vou,
Só eu que vou...

Todos os outros eus,
Os eles e tus em mim contido.
Um pouco meu contigo
Criando-me enquanto eu,
Refletido úmido e global
Nos olhos do olhar que me vê.
Vamos, nós, ninguém...
Vamos todos a lugar nenhum,
Partiremos do nada
Rumo ao impossível...

Vamos, cada um traz (consigo)
O que lhe é mais querido.
Todos, os desgraçados, os feridos,
Os que riem sem querer...
Vamos, um carrega dores,
Outro, no peito, amores
E outras murchas cores
Enfeitam meu jardim.
Vamos, carregamos o peso das escolhas não feitas,
Toneladas de conseqüências...

Vamos, mas vamos logo que o caminho é longo,
Dividimos o peso,
As angústias, as aflições...
Compreendendo incomensuráveis sensações,
Esmorecendo sob o peso fixo de existir
Que trago aos ombros vãos...
Vamos (ainda que sem vontade),
Vamos rápido para não chegarmos atrasados
Ao nosso próprio enterro,
Nosso próprio fim...

Vamos, vamos nascer (isso sim),
Feito plantas que ladram sobre o jazigo,
Flores desabotoadas,
Raízes de esquecimento
Cravadas no morto umbigo.

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