Olho-me no espelho
E vejo meus olhos coagulados
Que de tão dilatados e vermelhos
Chegam a refletir no espelho ortodoxo
O que eu nunca fui.
E o tempo flui sempre...
Mesmo que em vão
Assumirei meu próprio barco
A singrar no sal de meus olhos.
Mas, o que me resta?
Se o tempo engole toda a minha vida,
Se ao passar por ele, em seu passar,
Parece que fico,
Parece que fito
A velocidade de um relógio surreal,
Todo coberto de chocolates metafísicos,
Que de tão possíveis, físicos,
Chega dar-me enjôo da turbulência etílica
Que me arrasta a margem...
A margem de mim,
Assim... serpenteando
As sombras desfiguradas
Ou o que sobrou delas.
A erva doce que arrefece,
A sombra negra que desaquece,
O tempo de frente e para trás.
E agora tanto faz,
Façais como eu.
A sombra não é mais
Que reflexos ilusórios de minha consciência
(gritando cores).
E os reflexos nada mais são
Que vultos vivos,
Tão mortos
Que se escondem na aparência alheia,
No ínterim de cada individuo,
Nas memórias que me puxa o pé,
Na fé que me faz acreditar
Em algo nadificante...
E num instante de devaneio
Vejo-me criança
Brincando de ser adulto.
Peço meu indulto
Como se pedisse por palavras novas
Para pintar minhas velhas cavernas...
Mas não venha com essa de senha,
A lenha que queima
É o sonho sonhando,
Correndo às linhas os selos que não são daqui...
Ai de ti memória pálida,
Sofra aos 1.000 pés
Do meu desprezo.
Amanhã será que haverá segredo?
Sensação... persuade
Nada mais que a realidade
E nós sempre tão irreais
Não somos mais que sombras na escuridão,
Sombras que refletem a ausência de luz,
Que, enquanto luz noturna,
Ilumina todo o avesso do visível.
Alderberti B. P. & Alexandre D. B.
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