segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Meu pai e suas portas

E meu pai abria o portão. E meu pai fechava o portão. Ficava sentado na varanda o dia todo. Ele abria o portão. Tomava café e fechava o portão. A varanda era fria, e ele fechava a porta. E apertava o botão que abria o portão. E acendia um cigarro, e falava sozinho e fechava o portão. E ele lia, tomando café, e ele lia acendendo um cigarro. E ele abria a porta pra fumaça sair. E abria também a sua percepção. E ele lia o café, e apertava o botão, e ele falava sozinho na escuridão. E ele tomava o cigarro, e queimava o livro, abrira a porta pra espantar solidão. E ele lia o cigarro, ele tragava o café, ele matava o portão, ele perdeu o botão, ele tornou-se um livro, ele fumou um Platão, ele bebeu a Sofia, tomou uma atitude e perdeu a razão.

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