segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pangéia.

Perdi a ideia
Separou-se da cabeça
Pangéia.


Fragmentos de (in)continentes pensamentos
pedaços boiando num oceano cinzento
ligados em correntes marítimas de lembranças


reparti a ideia.
Pengéia.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Linguistiocídio

E você escuta um "cleck" no pé da orelha
é a palavra que se engatilha pra sair da boca
é a palavra descendo do cérebro e se transformando
em movimento mecânico das cordas da garganta
em vibração das cordas
das cordas do pescoço
da corda no pescoço
da pressão de acertar a palavra pro momento certo
na pressão de acertar a palavra em cima do banco
em cima do muro.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Fatias do Familiano Cotidiar

- Nossa, onde você conseguiu esse abdômem? - indaga a esposa passando a mão nas dobras esculpidas.
- Malhando, oras. - Responde o marido.
- E porque eu nunca tinha visto isso antes? Há quanto tempo a gente não transa?
- Dois anos.
- Dois anos? Meu Deus! Você nem deve me amar mais, aposto que já tem outra!
- Sim.
- Tem mesmo? pergunta lacrimejando.
- Outras.
- E aposto que elas adoram essa barriga sarada. - Comenta enciumada.
- É claro, todos adoram. Até seu Antenor da Padaria.

Como é bom descobrir (assim, no meio das preliminares) um marido gostoso e viado.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fugi de casa.


Hoje eu fugi de casa
Voltei porque esqueci meus princípios
Como se eu não vivesse sem eles
Até parece...

Quantas vezes eu me perdi?

Nenhuma, na verdade nunca me achei.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Mãe,

Você abre a boca
e eu nem lhe dou ouvidos
Sua voz é invisível?
Ou meus ouvidos que estão cegos?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Boom.

Eu sei que corro o risco
mas eu gosto dessa explosão inesperada
uma bomba relógio sem tempo
sem data, sem aceno que vai explodir.
Chega perto, bem perto
deixe-me ouvir seu tic tac
seu coração de dinamite
sei que lá no fundo, apesar de ser a bomba
é você quem me desarma.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Frente Verso

Frente
Verso
um
verso
a
frente
uma
frente
pro
verso
um
verso
decente
um
verso
de frente
a frente
do teu
verso
na tua
frente
verso.

Tanto faz.

Tamborilam-nos,
Chumaços.
Impermeabilizam, permeiam,
Espaços.
De espessas penas, cores;
Aos milhares,
Aos escritores,
Aos castigos.
Dos sanhaços.



Da Amanda, mostrando mais uma vez o quão melhor ela é nisso.
Colaboração da Karina que emprestou o lápis num momento de despreparo da inspiração Amandística.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sanhaço.

Sanhaço pousou na janela
cancela o cansaço,
vou com ele cantar.

Eu saio da rede,
viola timbira,
uma dupla caipira
nós vamos montar...


Desafio com a Amanda, a palavra era Sanhaço... logo ela posta o dela aqui.

o/
"Você é de uma exoticidade ímpar
me faz criar um neologismo diário
pra tentar te adjetivar
insisto...
ainda encontro palavra em que você caiba."

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sem título

Por favor,

Arraque esta minha cabeça que faz planos e
coloque no lugar apenas um balão
que mais do que metaforicamente
é vazio, sem direção.

Assopre na minha orelha o nome
de um lugar qualquer
e deixe-me voar ao (clichê maior do mundo)
sabor do vento.

balão no lugar da cabeça
simples: sem planos, ideais e sonhos
pra me azucrinar.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tu Ti Tá

Titubear
titubear-te
titubeando-te

Ti tubaína.

Tu de batina.

Tô de batina,

titubeando.

sábado, 4 de junho de 2011

Finóquio

Finóquio era um velho. E era velho pois tinha nome de velho. Finóquio. Certamente na infância encarara vários engraçadinhos que o chamavam, obviamente, de Pinóquio, cara de pau, coisas da quinta série, ou do quinto colegial como diziam.
Finóquio é velho. Não “era”, pois ainda não morreu. E a carapaça que se esconde quando fica envergonhado, ganhou de uma tartaruga gigante que ficou amigo quando foi marujo.
Rubro e com óculos dourados, ele tem hábitos peculiares dos avôs, ler para os netos, dormir e reclamar.
Um velho. O velho Finóquio. Foi lobista, engenheiro, arquiteto catalão. Foi jogador, foi zagueiro, da primeira a quinta divisão. Foi piloto, marceneiro, um bombeiro de plantão. Foi ouvinte, foi leitor, foi fazedor de refrão.
Por detestar rimas dedico a ele o passado parágrafo.
Só toma leite de Minas e café da mesma procedência. Teve estudos, teve privilégios, mas também tem calos nas mãos e a cara queimada pelo sol.
Finóquio, um velho avô. Um dado do IBGE, um número na Previdência, um na fila dos aposentados.
É ranzinza, é careta, acorda com uma dor no joelho que nunca contou pra ninguém.
Olha pela janela a Ford Jardineira que passa carregada de moçoilas e suspira:
- “ Ah Finóquio, quanta saudade das traquinagens juvenis...”

Finóquio, o velho.


Continua...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Pitaco

Primeira regra:
Minhas intenções são sempre as segundas.

E minhas segundas (feira)
são sempre mal intencionadas.

sábado, 21 de maio de 2011

Ao léu

Perdi um pouco da paciência
e outro tanto da vontade
tudo deixo passar ao léu.

Nada mais era
nada mais é
nada, mas é.

Vida "destrilhada"
desagarrada
"desavivada"

Tudo suspenso
mas continuo com os pés pesados
sem poder sonhar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Chiquesa!

E como a gente é chique beim!
A gente fala "faça-o
aguça, mesóclise e barítono"
A gente fala no gerúndio
no Geraldio e no Gerândio
a gente usa tudo que precisa
coesão, coesura, ora mole, ora dura
fala fino, fala elegante, fala sem saber, sabe sem falar
palavra difícil pra parecer mais sabido
o que eu quero mais é me "aproxegar" da lingua portuguesa
essa língua é culta não é verdade Creuza?
Acordava com uma remela saltitando, o olhar pesado de preguiça. A "pandinice" da maquiagem esquecido ao deitar, a orelha amassada por dormir com a mão embaixo da cabeça. O mau hálito matinal, típico, o bom dia baixinho da voz rouca e tímida. A espeguiçada como se estivesse ao sol, ainda assim, era a coisa mais linda que eu já vi acordando.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ígneo.

A primeira coisa que ela me perguntou ao sentar-se na cadeira em minha frente, foi se a nossa história ia começar de uma maneira clichê, com ela puxando assunto assim: “Tem fogo?”.
Atônito, por dois segundos não consegui raciocinar. Tremi de leve o capuccino que tinha acabado de pedir.
Respondi que não, não íamos ter um início clichê, muito menos um meio desse jeito. Não falei do fim, pra não pensar negativo, ora bolas. Éramos diferentes. Na verdade, ela era diferente, e com a simples presença já me deixava um pouco diferenciado também.
Respondi o segundo não sob olhares curiosos. Esse, se referia ao fogo, que eu não dispunha. Havia parado de fumar há alguns anos.
Um amigo meu sempre carregava seu Zippo cromado para ocasiões como esta. Caso alguém, preferível que fosse alguma dama, lhe pedisse o fogo.
Agora pense comigo, se eu tivesse seguido esse conselho, certamente teria me ruborizado diante dela, com meu surrado Bic amarelo, que de maneira desajeitada usaria para atear fogo ao início do assunto.
Com uma olhada repugnante, ela me sussurraria um gelado “Obrigado”, pairando no ar como uma nuvem recheada de desprezo. Me sentiria um lixo.
Perderia isso tudo por causa de um maldito Bic amarelo, um destino diferente flamejando na ponta metalizada que eu iria deixar passar.
O capuccino se duplicou na mesa e em poucos minutos ela me conhecia melhor do que eu mesmo. Eu sei, isso foi clichê. Eu falo bastante, mas ouço também. Naquela meia xícara que tomei, fiquei sabendo de um terço da vida dela. Levantando os olhos, me disse que um outro terço eu descobriria saboreando aos poucos, ao longo dos dias. Segredos compartilhados debaixo da coberta, um aqui, outro acolá, um outro, quando ela me pedisse – “Amor, me alcança a toalha” e ali, meio ensaboada, meio molhada me diria uma nova curiosidade sobre ela, onde ganhou a cicatriz, que era medalhista no xadrez, quem sabe. Escovando os dentes e me contando da viagem ao Chile, do porre aos 15 anos entre tantas outras coisas imagináveis na minha cabeça nada imaginativa.
O restante da vida, ela nem se daria ao luxo de me contar, porque, segundo ela, eu faria parte integralmente (fez questão de enfatizar a palavra) disso tudo.
Ao final da conversa percebemos que não seria necessário isqueiro nenhum, muito menos fósforo, vela ou lança-chamas. Da troca de olhares já ardiam faíscas e as pupilas dilatadas denunciavam nosso real interesse.
Não conto o resto da história agora, deixo pra depois. Um tiquinho de crueldade com a curiosidade alheia? Sim, pode até ser, quem sabe...
Mas fiquem sabendo que hoje, quando sou parado nas ruas e questionado se tenho fogo, digo:
- Tenho! Mas não empresto, ela é só minha.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

São os olhos, de novo.

Olhando seus olhos pidões me despeço
Peço.

Mais um tempo pra encarar-lhes
e eles me convencem a ficar um pouco mais.

Porém, devo fazer o contrário, quero-me distante.
Marejados se despedem de mim.

Olhos pidões marejados.

Não resisto, amanhã te ligo.

Continua...

Não pude mais olhar esses olhos pidões
que pediram para não serem olhados
do lado, o avesso, o aceno, o tchau
o embarque no ônibus, o final.

Passagem comprada, um coração naquela mala
saltita com os solavancos da estrada
suspira com a ausência de uma volta não datada.

Vai, mas deixou tudo suspenso
como uma pergunta sem resposta
como um problema que ninguém gosta.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Já não tenho títulos pra eles

E é minha ironia disfarçada em sorriso
minha malicia disfarçada em afeto
meu ódio disfarado em abraço
meu amor, preso num vidro
criado, tratado
como se fosse
um bicho.

terça-feira, 29 de março de 2011

Quase

Um quase, um hipnotizador quase
o quase grito na sua janela
o quase abraço, o quase beijo na chuva.

Quase que morro com quase
"quasidade, ou salva ou fode"
como você mesmo dizia na casualidade.

um quase sonho, uma quase vida
um quase completo
você foi meu completo quase
um quase amor.

Quase sinto saudades.

segunda-feira, 14 de março de 2011

E lá vou eu de novo

E lá vou eu, outra vez de novo
Me questionar sobre o que não tem solução
Sobre ser poeta, velho ou novo
Sobre escrever com o coração.

De como aproveitar a hora da cesta
E escolher um lugar calmo
Pra outra vez pegar a caneta
E escrever mais um poema besta

É daqueles que podem até ser lidos
Mas não serão compreendidos
Não surtindo efeito, então
E me pergunto bem baixinho
Do poeta, qual é a contribuição?

Já não vejo aí resposta
Eis ai minha rotina
Outra pergunta me consome
Quantas palavras eu uso
Na minha poesia cretina?



Cento e nove nesta daqui.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Em ba (lha) ra do

Engraçado como eu não sei desgostar de nada em você.
Como eu observo e me petrifico diante de cada novo detalhe que descubro.
Diante de cada novo detalhe que eu descubro que gosto,
Que gosto ao ponto de não ter percebido antes,
e de agora ficar horas olhando paralisado para o novo detalhe
Que acabei de gostar.

Gosto de como você me faz embaralhar as palavras,
como se fosse num jogo e com dificuldade distribuo-as aos jogadores.
Faz me embaralhar, com ou sem palavras , embaralhados, sou um dois de paus.

Gosto dos desenhos das suas camisetas, blusas, e afins
De como lhe cai bem a simplicidade, e ao mesmo tempo o suntuoso
Gosto da presilha no cabelo, deitada na lisura de suas madeixas que
só de olhar imagina-se o tato e o cheiro.

Me perco no sorriso dado de lado, jogado num canto da boca
deixado de escanteio, acidentalmente colocado ali pra me deixar de boca aberta
Sua facilidade em me suspreeender me surpreende.
A cada piscada nova, inspiração me surge.
Seus olhos curiosos, grandes, pidões, úmidos, numa cor que ainda nem defini
são um convite formal pra minha mais eloquente necessidade

O braço, branco e com uma maciez que me excita
me faz querer apertar-te até você sair por entre meus dedos
e voltar pra mim de novo.

Fico assim, embaralhado.

terça-feira, 8 de março de 2011

Pedra Sabão

Suas mãos eram ágeis, intensas e ásperas
Com experiência de mil anos e ferramentas rústicas de persuasão
Fez de mim o que queria
Me moldou, fez-me sua obra prima
Ápice da criação
Derreteu-me.
Me levou a forma novamente
Me deu nova cara.
Brutamente me lapidou, fez de mim
O que queria e o que não.
Enfeito seu ego como uma estátua
Esculpida em pedra sabão.

Trúbia

De toda poesia é possível fazer um texto
Uns não, dez, cem ou mil
Várias idéias, complementos, distorções, contradições
Análises, adequações, enfim!
A poesia é ligeiramente e propositalmente
Dúbia, dual, ou até mesmo “trúbia”
Ela permite que você a compreenda da maneira
Que ela não gostaria de ser vista
Poesia é uma porta aberta pra um gramado
E lá no meio uma placa de não pise na grama.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Balaústre

Hermanito charmoso esse Miguelito. Galanteador, matreiro, papo afiado, Miguelito tinha sempre um "deixa que eu pego", um "Que isso, o prazer foi meu" na ponta da língua .Cavanhaque ralo, olhos verdes, cabelos lisos.Vinha sempre munido de um sorriso engatilhado e pastilhas de menta.Sentado, com vergonhoso espanhol, o falso Dom Juan se preparava para o próximo bote. Um olhar cruzado e pronto:

- Tengo bala,usted quieres?
Aí, mais um coração partido.



Esse foi mais um desafio com a Amanda, a palavra era Balaútres. Acho que serve um bala alguma coisa né?

:B

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Bem digo.

Era esquálido, meio amarelado. A boca seca nas três da tarde. O boné jazendo no calor da calçada. Dois reais e setenta centavos. Enquanto roia a unha do anular, cogitava deveras possibilidades do que fazer com a mísera quantia. O meio fio quebrado chamou sua atenção. O tilintar de mais dez centavos nem foi escutado. A barba o incomodava há duas semanas. Da sacola pálida retirou uma garrafa de água pela metade. O sol cobria-lhe metade do corpo. Numa posição quase incompreensível ele permaneceu estático por duas horas. Um pão de queijo e imediato ao pensamento salivou. Não comia há dezesseis horas. Coça a barba e encara o engravatado. Era chamado por alguns de problema social, e não se lembrava do seu nome de batismo. Já não importava. Seus pensamentos se confundiam entre realidade e alucinações, causadas pela insolação e momentos de vagas lembranças induzidos pelo álcool. Na palidez da sacola lia-se “Volte Sempre!” Até que não seria má idéia, pensou. Alguém lhe jogou um jornal. Foi direto a página sobre previsão do tempo. Frente fria. O jornal viraria então cobertor. Uma senhora macilenta desfila com seu bassê. Teve a certeza de que o cão vivia melhor do que ele. Era notívago, mas não pela rebeldia de seu horário biológico e sim pelos perigos oferecidos pela madrugada. Vez ou outra acordava sem os pertences, o que pra ele não era muita coisa. Ou acordava sobre saraivadas de bofetões de algum sanhoso policial. Um pingado e um pastel de vento. Seu estômago quase criou vida. Algo se retorcia e gritava lá dentro. Com um leve aceno de cabeça agradeceu a moeda. Não citava mais Deus. Os que passavam apressados mal tinham tempo de jogar a moeda, muito menos para ouvir um agradecimento fervoroso e fiel. Um vento lhe trouxe o perfume de um alguém. Quanta gente mesquinha. Começou a se questionar com o que aquelas pessoas se importavam. Um banho no posto de gasolina se o dinheiro desse. Será que se importavam com o que fazer num domingo? Uma das possibilidades que ele tinha e desfrutava era a de poder se sentar e pensar o dia todo, em qualquer coisa. Sem que fosse interrompido, passava horas absorto em idéias e escutando o tilintar das moedas, isso quando o dia e o ponto eram bons. Julgava ter quase quarenta anos, quando na verdade tinha trinta e cinco. Será que se ocupam vendo novela? Será que param no meio do dia e ligam para a esposa? Um casal passa e ri. Um pequeno cão marrom senta ao seu lado, como se esperasse a puxada de uma conversa. Olha-o de cima abaixo e cheira sua mão. Uma sirene ao longe e uma nuvem espessa tapa o sol. No que eles pensavam enquanto caminhavam? No que vestir para aquela festa? Quanto custava aquele novo celular? Uma loira fala ao telefone enquanto seu sapato tique taqueia a calçada na sua frente. Quando ergueu a cabeça e olhou dentro do boné havia uma bala que prontamente foi descascada e jogada na boca. O cão se lambe e o encara. No que pensam os pedestres que se cruzam e nem se olham? Certamente não era no pingado e no pastel que ele pensava. Haveria de ser na calça na vitrine, no novo Volkswagem ou na décima edição do reality. No preço da dúzia de ovos, no remédio contra a impotência ou no porque da calvície. Na bunda da moça que vai a sua frente, no esporro do patrão e no flerte com a secretária. Na prova de matemática e na feira livre de quarta. Pensavam se iam ligar amanhã, se a gravata está torta e quantas parcelas faltam da televisão. Aonde irão no carnaval, quem reforça o ataque do Flamengo. Onde foi parar a tampa da Tupperware e quanto custa por hora.
Cansou de tudo. Do boné retirou o suficiente para o pingado e o pastel. O restante das moedas distribuiu entre quem passava. Assustadas as pessoas pegavam as moedas sem saber como reagir. Alguns aceitavam e riam outros indignados com a situação proferiam palavrões. Eles precisam muito mais do que eu – pensava. Seguiu pela calçada e sumiu entre a multidão, seguido pelo cão marrom. Ele podia pensar todos os dias, e isso já bastava para viver.




Não revisei, já é quase meia noite, tenho que fazer mais dois textos e acordar as 7! Beijo!

Semana Canibal

Minha semana é canibal
Um dia come o outro
Mas a dieta é sempre a mesma
Formada pelo meu tempo
O domingo come o sábado e alimenta uma segunda-feira
e assim vão.

Dois mil e onze anos sendo comidos
Salivando segundos pelo canto da boca
Raspando os minutos restantes nos pratos
Empilhando horas para serem lavadas na cozinha

Eterna refeição de 365 cardápios iguais
Eu me alimento do tempo
Quando tenho tempo pra comer.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sabão de Côco

Entrei na equipe do Judô,
Chance de através do título de homem,
Poder abraçar outros tantos.
Mas o mais esperado mesmo,
Era a hora do banho.
Em que no chão eu ia deixar,
Levemente escorregar,
O pobre coitado do sabão!

Bom, essa é a minha parte na brincadeira com a palavra.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Morena das omoplatas de saboneteira

Mamãe, sou assim mais “melanizada” ou nasci mais corada?
De onde vem essa cor de jambo que me contrasta com outrem?
Será dela que surge essa volúpia que desperto nas mentes masculinas?

Passo na rua entre arremessos de galanteios, cantadas, beijos e acenos
Me resta rir por dentro, na solidão do meu inflado coquetismo
Vez outra me escapa um risinho frouxo no canto da boca
Por entre os dentes, e então, olho de soslaio o atrevido cavalheiro.

Na minha mente pura e ingênua despertam desejo e explodem “eu queros”
Me seguro, amarro o tesão ao pé da cama e espero
Me contenho, me abstenho
Proferindo obscenidades na intimidade do meu quarto.
Acordo assustada e vou logo lavar a boca com sabão.






Essa se originou de uma brincadeira entre a Amanda e eu, fazer um texto qualquer contendo uma palavra em específico, no caso: Sabão.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Madeixa

Deve ser o cheiro do cabelo que invade a narina e me excita
E faz sentir que estou realmente aqui
Sua respiração leve me faz repousar
E me carrega em calmaria
Seus olhos fechados me traduzem o que ela pensa
Com o corpinho acolhido contra o meu
Fazemos jus a uma lei da física, troca de calor entre corpos
Braços em nó, impossível desenlaçar, proponho o desafio
O pescoço nu, o colo convidativo
Salpicado de beijos nos ombros, nos braços
Se eles servissem como prova de algum crime
Minha sentença seria prisão perpétua
Queria que a noite durasse mais 203 anos
Tempo suficiente pra que eu sentisse que aquilo
Realmente acontecia, e não era um devaneio mirabolante
O gemido do sono, o aperto afagado
Os cabelos, sempre os cabelos
Envolta num sono profundo, a boca agora não fala nada
Mas ainda escuto o eu te amo, seguido do boa noite.

Velo teu sono, reza por mim.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Target

Olhar municiado
Sentimento engatilhado
Alvo localizado:
FOGO!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sulino

Que vente muito
Sopre, uive na janela do meu quarto
E que num ato
Tu desça do céu
Voando naquele sulino
Que sempre por aqui
Foi bem vindo.

Que sopre com toda a força
O vento do destino
Levante minha casa
E que não pare até que
Não mude todo o mundo a minha volta
Vento que tu seja meu amigo
Daqueles
Que escrevem solidão
Que o vento entre e balance
Esse velho coração.

Manchado de sangue

Vestido branco
De noiva
Manchado de sangue
Machado.

Seu, do marido
Das sobras
Da noite
De núpcias

Tem sangue
Vermelho
No vestido
Branco
Irrompendo a pureza
E a virgindade da alvura
Sangue.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Saudoso

Tenho uma apreciação pelo antigo
Pelo empoeirado, esquecido
Num canto, num baú, numa caixa
Tenho apreço pelo que você procura e quase nunca acha.

Me perguntam de onde surgiu tal cartada?
De onde veio tal admiração?
Acho que nasci na época errada
Nasci velho, queira ou não

Sou um eterno saudosista
E mesmo que eu insista
Preferia o tempo em que era mais firme
O aperto de mão.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Devaneios de calçada

Não adianta ficar mais atento. O olhar procura algo na multidão, que nem mesmo eu sei o que é. Quantas pessoas na minha frente, quantos olhares que vagam em direções opostas a minha, quantas manchas de pensamentos pairando sobre o ar. Multidão que vaga sem rumo certo, apesar de dizer com absoluta certeza pra onde está indo. Pra onde estou indo? Me questiono em meio a cotoveladas e pedidos apressados de licença. Caminho sem relógio entre gente sem tempo a perder, sem dinheiro a perder, sem nada a perder. Muitos anseios e muitas obrigações. Que sentimento é esse que me faz querer gritar na calçada, atraindo olhares reprovadores dos engravatados e das maquiladas de plantão? Sobem e descem num frenesi charmosamente absurdo. Pastas nas mãos. Enquanto uns pastam capim em outros pastos. Esse mundo tá indo rápido demais. Essa coisa de ter que ser alguma coisa já não me passa na garganta. Eu vou ser o que eu quiser e desde já eu digo, não devo satisfação disso a ninguém. Eu quero escolher, e escolho sentar na calçada e ficar olhando a multidão passar, contando quantos passos faltam para chegar ao trabalho, ou quantos minutos terão pra ficar em casa. Pare o mundo, tem gente que quer e precisa descer.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Peruanita

Era tão pequena que eu sentia seus ossinhos quando a apertava contra o meu peito, e quase se estalarem num abraço mais forte. Era magra a ponto de ser possível ver suas veias azuis serpentearem pelo seu corpo. E a cada pulsação do infindo coração, via-se um leve movimento sob a blusa de pano mole, que refrescava e deixava a mostra seu colo convidativo. Os olhos pujantes tomavam conta do ambiente, por maior que fosse a sala. Sua voz rouca e baixa anuviava meus pensamentos. Adorava ouvi-la. Mesmo que nestes momentos eu estivesse mais desejando sua boca do que concentrado em seu monólogo. Sempre fui um bom ouvinte. E um bom pecador. O aroma que inebriava o cômodo devinha dos cheiros naturais daquele pequenino corpinho na minha frente, e dos perfumes do banho, do pescoço, e dos cabelos. Era uma mistura doce que, sem passaporte ou licença alguma, adentrava meu nariz. Tinha, como um carma ou um peso que carregava, um sorriso cínico no meio do rosto, que gritava em contraste com as olheiras lúgubres. Era misteriosa, e quando perdia seu olhar num canto qualquer, eu já imaginava “trocentas” hipóteses sobre o que pensava. Na melhor das suposições era mais uma fuga da minha vida e dos meus dias.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

“Liliputiano” ou “Semente de Melancia”

Me leve junto no bolso do seu casaco?
Na bolsinha de moedas?
Ou em qualquer lugar que eu possa caber!

Pode ser no seu coração, lá dentro
Quentinho, quietinho
E de lá, sinto sua pulsação.

Me leve junto pro teu quarto, pro teu sono
Me coloque embaixo do travesseiro
Quem sabe tu sonhas comigo,
Talvez até acorde sorrindo.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Do avesso.

Bateu na minha cabeça só pra ouvir o toc

Mexeu nas minhas terminações nervosas e acabou levando choque

Encostou o ouvido na minha boca pra ouvir um segredo

E deu até risada quando contei a ela o meu medo

Olhou bem fundo no meu olho só pra ver se a refletia

Enlaçou-se em meu pescoço já demonstrando simpatia

Auscultou meu coração que já batia descompassado

E perfumada em malícia acenou, me convidando pro lado errado.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Meça a massa pesa e faça

Sentimentos deveriam existir em medidas exatas
Milimétricas somas e subtrações
Deveriam ser porcentagens, decalitros ou alqueires.

Assim, poderiam se apresentados em relatórios
Em resumos mensais, gráficos e projeções
Teríamos o SIB – Sentimento Interno Bruto
E o ICSM – Imposto sobre Sentimentos Medidos.

Jardas, polegadas ou milhas
Arrobas, um palmo ou uma pitada
Seria mais justo nesse escambo, nessa permuta.

Seria mais justa essa troca, em que uns acham que dão mais
E recebem menos
E por mais que se meça
Sempre tem alguém insatisfeito.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O ontem hoje

Ontem é o dia que ainda não terminou,
talvez tivesse tempo entre ontem e hoje,
talvez tivesse sono...

Sou o mesmo, ainda que dormido e torrado
em derretimento pelo calor da madrugada ou do cobertor...
Talvez, mas somente talvez,
pois a noite esfriava a minha vigilia
até atrofiar os nervos de meus olhos cansados,
acostumados a me suportar enquanto tardo-me corpóreo...

Ontem foi o dia que continua hoje,
os agoras trespassados se esfarrapam
e os seus fios tecem dia após dia uma sequência semanal.
Os dias seguem...passando por segundos, minutos,
horas incertas de antecipação para o fim...

E os dias ainda seguem, por não terem relógios que os marquem,
por ser cada hora o reflexo molecular de sua totalidade infinita.
Um todo sem fim que começa no outo,
uma contradição que liga o sol ao início de cada dia.

Nada

Depois disso tudo, ela vai e mija.
Não sei por que filosofia ou hábitos corpóreos de necessidades,
não sei, nem isso e nem nada. Nem nada e nem algo,
nem mesmo o mesmo. Mesmo!

Quis encontrar o Ser, desci aos calabouços escuros de minh'alma,
libertei os valores, os pudores e as contradições e, até vi o ser,
de longe, mas logo se escondeu na caverna,
tão logo percebi sua sombra: seu próprio ser.

Ser? Cadê?
Não aos meus olhos, nem por nada, mas eu não sei:
se algo é, é porque é algo e nada mais.
Se nada é mais, também não sei,
não sei isso como o que sei de tudo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Tudo que tenho direito ( e até o que não tenho)

Quero tudo que tenho direito
Sem dedução do imposto de renda
Sem taxa extra de uso, sem taxa de embarque
Quero minha cota mensal de novas amizades
Quero juros das conversas com pessoas bacanas
Quero a correção monetária dos amores (im) perfeitos
Quero empréstimos compulsórios de companheirismo
Quero os prejuízos e débitos das paixões dilacerantes
Quero correção da bolsa de “valores pessoais”
Quero minha parte em tudo que já ri e chorei com todo mundo
Quero números, frações, porcentagens e afins
Quero todos meus pedaços que deixei nas outras pessoas
Somos todos um pouco em cada um.

Quero.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Quem fala sobre amor em forma de poesia, mente. Amor é peito, bunda, buceta, pau. Amor é conta pra pagar, mercado pra fazer, bafo matinal.

Via Twitter por @JoiceViana

Isso foi uma das coisas mais reais que eu já li, é uma daquelas frases que você sente inveja por não ter escrito.

Eurico

Essa é a história de um homem que primeiramente deve ser apresentado pela profissão. Matador. Seu nome de batismo era Eurico, mas devido a um trágico acidente de moto ainda na adolescência e pelo destino que se prosseguiu ganhou a alcunha de Eurico Sem Braço.O terno preto que usava geralmente estava com uma manga solta, o que lhe dava um ar de mafioso italiano. Na verdade era do outro lado que se escondia o perigo.
- Me dê uma foto e executo o serviço, sem envolvimento entre ambas as partes.
Exigia isso, e metade do pagamento adiantado. A outra metade pegava após a conclusão do trabalho. Cobrava muito, pois era o melhor no que fazia.
Pior que seu problema físico, eram seus problemas psicológicos. Se fosse analisado algum dia, isso se fosse possível chegar a um resultado antes de Eurico assassinar o psicólogo, provavelmente ele diria que seu problema, ou seus problemas, derivavam de sua criação, ou de alguma fase de Freud mal desenvolvida.
Certos comportamentos não faziam sentido. Ele ainda podia sentir o braço que há dezesseis anos havia sido amputado. Tinha saudades da Sete Galo, mas ela fora traiçoeira com ele. Tinha um cigarro e uma arma preferida. A Magnum 44 municiada sempre o acompanhava, no bolso oposto ao Hollywood vermelho, sem filtro. Até hoje nunca ninguém soube como ele a recarregava, ou como acendia o cigarro. O engraçado é que até hoje, ninguém se atreveu a perguntar.
- Um uísque duplo, por favor.
Foi a única coisa que pediu quando sentou-se no balcão, ao lado da sua próxima e última vítima. O balcão era mal iluminado, acariciado apenas pela luminosidade de uma lâmpada de 40 watts, proveniente da mesa de sinuca. Mesmo com a penumbra, Eurico teve a leve impressão de já conhecer o senhor, que logo seria senhor cadáver.
A Jukebox tocava um Jhonny Cash meio rouco. Primeiro gole, primeira lembrança.
O sujeito que estava ao seu lado fora o primeiro a chegar ao local de seu acidente, anos atrás. Lembrou-se de ser carregado para dentro de um Opala SS 77 verde, que voava sob a chuva fina na Rodovia 73, em direção ao hospital municipal.
Foi carregado numa maca e quando acordou estava sem o braço. Aquele velho, barbudo, um pouco acima do peso, deveria ter feito algo muito perigoso para ter a sua vida encomendada. Porém, aquele mesmo velho barbudo, um pouco acima do peso salvou sua vida, numa noite fria e chuvosa na 73.
- Qual é seu nome, meu amigo?
- Lopes, me chamo Lopes – disse o velho, sem tirar os olhos de seu copo vazio.
Eurico pediu ao garçom mais uma bebida para o velho Lopes. Conversaram palavras roucas e baixas. Eurico perguntou de sua família, porque bebia sozinho no bar, e se por acaso lembrava-se do jovem que salvou de um acidente de moto.
Lopes respondeu que sim e que nunca alcançou a mesma velocidade com seu bólido verde, que por sinal estava estacionado lá fora.
Eurico sentiu um nó na garganta, quando Lopes, lhe confidenciou que pensou que aquele jovem não fosse se salvar, e que nunca mais teve notícias do garoto.
Virando o último gole em seu copo, o matador sem braço se despediu, deixou o dinheiro das bebidas sobre o balcão, deu um forte aperto na mão de Lopes, e se foi embora.
Lá fora, Eurico escondeu-se atrás do Opala Verde, sentiu o cano frio da arma, e ficou a espera de sua vítima. Afinal, negócios são negócios, e Eurico é mais ‘ruim’ que a Sete Galo.

O seu dia

Eu queria ser criativo
a ponto de te surpreender todos os dias!

De não deixar a rotina te rondar
como um fantasma pesado

Te fazer rir com minhas piadas cretinas
te deixar recados perdidos pelo seu dia

Espalhados na sua casa
na sua geladeira e no meu sorriso

Coisas inesperadas, saudades e poemas.
Sorrisos e lembranças boas.

Livro Eu

Ainda faltam inúmeras páginas inacabadas do livro chamado “Eu”
Que eu, estou a escrever.
Venho fazendo isso há cerca de duas décadas
E se tenho um capitulo pronto, vos digo que é muito.
Talvez esse livro só tenha mesmo um capitulo
E talvez eu até o intitule de Capítulo 1: “Vida”

Escrevo devagar, um pouco a cada dia
Esgueirando-me entre as palavras
Frases soltas, sílabas pujantes.
Às vezes escrevo várias páginas num dia
Noutras, passo semanas sem pegar na caneta.

Trago pessoas, momentos, cheiros, nomes, abraços, saudades
Tudo isso concretizado no papel

Quem sabe eu o publique um dia
Ou talvez não, guarde só os originais comigo
Enquanto isso, vou escrevendo aos poucos
Disso só tenho uma única certeza
Sou o único autor da obra
E posso dar a ela o rumo que eu quiser.

Procura-se

A inspiração me fugiu
Saiu pela porta da frente
Procurando alguém que a satisfaça
Cansou de viver na minha cabeça sem graça.

Eu também me cansei dela
Só aparecia aqui de vez em vez
E sempre que eu precisava
Ela nunca me satisfez.

Agora eu já nem sei o que faço?
como um convite, deixo a porta de frente aberta?
Ou me viro pelas ruas, procurando sempre alerta?

O pior de ela ter ido sem me explicar esse fim
É que junto com ela, num bolso do casaco
Levou um pedaço de mim.